O governo deveria liquidar, se não tudo, pelo menos parte da dívida que ainda mantém com o FMI (Fundo Monetário Internacional), na avaliação de ex-integrantes do Banco Central e de especialistas do mercado. Se pagasse antecipadamente os US$ 23,2 bilhões em compromissos com a instituição, economizaria aproximadamente US$ 1,7 bilhão – valor referente aos juros.
A tese defendida pelos economistas é que o BC deveria usar o dinheiro que tomou emprestado do FMI para pagar à própria instituição. Isso seria possível porque o BC acumulou grande quantidade de reservas em moeda forte nos últimos meses, aproximadamente US$ 62 bilhões. Descontada a dívida com o Fundo, ainda sobrariam US$ 38,8 bilhões – valor tido como considerável mesmo em caso de crises.
O ex-diretor de Política Econômica do BC Ilan Goldfajn lembra que parte significativa dos empréstimos do FMI tem um custo alto. Foram recursos tomados em épocas de crise, quando precisaram ser liberados rapidamente para reforçar as reservas internacionais do país. Dos US$ 25,973 bilhões sacados do acordo renovado pelo Brasil em setembro de 2002, o país tomou emprestado US$ 11,5 bilhões da linha mais cara (chamada em inglês de SRF, algo como ?facilidade de recursos suplementares?).
De acordo com Goldfajn, o crédito da SRF é de três a três pontos e meio percentuais mais caro do que o da linha padrão (Stand-by). ?Acho que em algum momento a gente poderia ter uma decisão do governo de pagar essa parte mais cara?, disse.
Para o ex-diretor de Política Monetária do BC Luiz Fernando Figueiredo, o governo poderia pagar toda a dívida com o Fundo. Como o sistema de câmbio no Brasil é flutuante, ele diz que não há necessidade de manter valor alto de reservas internacionais. Lembra que, em 2002, no auge da crise de confiança decorrente da eleição presidencial, o BC só precisou gastar US$ 9 bilhões das reservas internacionais. ?Realmente é um dinheiro que gera custos, e, como o BC tem hoje um volume de reservas bastante relevante, não há razão para você manter esse valor. Se não custasse, tudo bem. Mas, como custa, para quê??, disse.
Já o ex-ministro da Fazenda do governo FHC, Pedro Malan, e o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC Beny Parnes entendem que é preciso fazer contas, verificar se o custo de pagar antecipadamente a dívida compensa. Eles não citaram exemplos, mas uma possibilidade seria empregar o dinheiro para recomprar títulos da dívida externa.
Questionado sobre o assunto, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que ainda não há uma decisão sobre o tema. No dia anterior, numa audiência no Senado, o ministro Antônio Palocci Filho (Fazenda) deu a entender que o governo não pagaria antecipadamente a dívida.