Perplexidade. Esta é a palavra que resume a reação de ex-integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a nota divulgada na manhã desta terça-feira, 19, pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Pelo que comentaram dois ex-diretores da instituição ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, uma postura dessas não tem par na história do BC.

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Pela manhã, Tombini soltou uma nota considerando “significativas” as revisões das projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o crescimento do Brasil neste e no próximo ano. Mais do que isso, enfatizou que essa informação, como todas as demais disponíveis até o momento da decisão do colegiado, serão apreciadas pelos membros do Copom.

Uma das fontes consultadas revelou que estava em reunião interna na instituição em que trabalha quando um colega verificou a notícia no Broadcast por meio do celular. Os reflexos da decisão do Copom de amanhã eram um dos assuntos do encontro. Depois da informação, no entanto, tornou-se a pauta principal, conforme relatou. “Todos os sinais do BC eram mais hawkishes (inclinado ao aperto monetário), apesar da recessão. Não entendemos o motivo de Tombini passar um recado tão dovish (suave) no meio do caminho”, disse.

Se havia uma possibilidade de Tombini deixar o cargo por conta da pressão política que vem sofrendo para não aumentar os juros, a avaliação dessa fonte é a de que a revisão do FMI caiu como uma luva para o presidente do BC, que poderá usá-la como argumento. Com isso, avaliou, também não haveria motivo para deixar o cargo. “Mas isso é contraditório com toda a linha apresentada desde o final do ano passado. Ou o BC não passou os recados certos ou teve de mudar de posição de última hora, o que é muito pior”, avaliou o ex-diretor.

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No Copom passado, o colegiado optou por manter a Selic estável em 14,25% ao ano. O placar, no entanto, foi dividido com seis votos a favor da manutenção e dois pela elevação imediata da taxa para 14,75% (Sidnei Marques e Tony Volpon). O que o Broadcast apurou na ocasião é que se tratava apenas de uma questão de timing, já que todos os membros teriam como tendência de atuação o aperto monetário. As discussões ficaram mais concentradas sobre quando o BC deveria começar a agir.

Para outro ex-integrante do BC, a decisão do Copom de amanhã foi praticamente antecipada para hoje. “É claro que se trata de um comentário assinado por Tombini, que é um voto, mas é um voto importante e, mais do que isso, de ‘minerva'”, considerou, levando-se em conta que a decisão poderá ser, mais uma vez, dividida. Na história, vale lembrar, é difícil encontrar um momento em que o presidente do BC está no grupo dos “vencidos” em um placar do Copom.

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Apesar de todo o desgaste que essa nota poderá trazer para os negócios e as expectativas, essa fonte salientou que, pior ainda, seria ver o colegiado elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual amanhã, sem ter feito qualquer sinalização sobre essa possibilidade. “A notícia de hoje chocou, claro, mas o pior dos mundos seria levar um susto ainda maior amanhã à noite”, disse.

O Broadcast apurou também que, durante o evento de uma instituição financeira, um ex-diretor do BC foi interrompido durante sua fala para ser informado sobre o comentário de Tombini. A reação foi de perplexidade. Ele teria dito que “parecia brincadeira” o BC comentar uma revisão do FMI à véspera do Copom. “Não há precedentes.”