Ex-diretor do BC defende intervenção no câmbio

São Paulo (AE) – O ex-diretor do Banco Central (BC) Emílio Garófalo defende que o BC promova intervenções no mercado de câmbio para elevar a cotação do dólar em relação ao real. "Sem essa atuação, a tendência é de a moeda norte-americana bater em R$ 2,50, provavelmente até o fim do ano", comentou.

Para Garófalo, a autoridade monetária não deveria ficar distante da valorização do real, pois ela pode afetar as contas externas do País. "Sei que há limitações de legislação para a compra de dólares. Mas é preciso que algo seja feito. O BC do Brasil deve ser o único Banco Central do mundo que não intervém no câmbio", afirmou. "A compra de US$ 3 bilhões que será realizada pelo Tesouro não vai modificar nada. Será necessário adquirir uma maior quantidade de dólares no curto prazo."

Garófalo afirma estar "preocupado" com os efeitos do fortalecimento do real frente à moeda norte-americana sobre as vendas de produtos brasileiros no exterior. "Como consultor de empresas, já ouvi de muitos exportadores que o dólar perto de R$ 2,70 abala a competitividade conquistada por essas companhias nos últimos anos", afirmou.

A compra de dólares, segundo Garófalo, além de colaborar para que o câmbio chegue a um patamar mais razoável, será oportuno para o País elevar as suas reservas internacionais. "Hoje temos US$ 22 bilhões de reservas líquidas, que não contam com os recursos do FMI. Essa quantia deveria dobrar para que pudéssemos ter um pouco mais de folga nos momentos de turbulências", comentou. "Afinal, para que serve ter um superávit comercial de US$ 30 bilhões se as reservas aumentaram quase nada?"

Na avaliação do ex-diretor do BC, os juros elevados também ampliam a tendência de valorização do real frente ao dólar. "Esses juros (17,25% ao ano) muito altos só atraem investidores para aplicar seus recursos na nossa moeda, pois a rentabilidade é bem mais elevada do que aplicações em dólar", afirmou. O título de 10 anos do Tesouro norte-americano, um dos principais referenciais no mercado de renda fixa internacional, paga hoje 4,39%.

O real está se valorizando em relação ao dólar, de acordo com muitos analistas, como o ex-presidente do BC Carlos Langoni, porque a economia brasileira está crescendo, os juros são elevados e há uma entrada vigorosa de dólares no País, promovida especialmente pelos exportadores. Na avaliação de José Augusto Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as vendas externas deverão registrar US$ 95 bilhões neste ano, o que proporcionará um superávit comercial de US$ 32 bilhões.

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