O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, acusa os europeus de estarem tentando desviar a atenção dos problemas centrais nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ontem, Brasil, Índia e China se opuseram às idéias da União Européia (UE) de concentrar a atenção nas negociações comerciais em pontos como a melhoria da infra-estrutura para os países pobres. Palocci insistiu na organização de uma cúpula de chefes de Estado para desbloquear a negociação, mas não convenceu a todos. O debate ocorreu durante a reunião do G – 8, grupo das maiores economias do mundo e que convidaram os países emergentes para debater a questão comercial.
Contrariamente ao que previa Palocci, o G – 8 sequer incluiu em seu comunicado final a tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em convocar uma cúpula. ?A Europa ainda não tem uma posição fechada sobre o tema?, afirmou Thierry Breton, ministro das Finanças da França respondendo pergunta feita pela Agência Estado. ?Temos muitas barreiras a enfrentar. Os países ricos continuam com posições muito conservadoras?, afirmou Palocci.
Os governos têm até dezembro para fechar um acordo na OMC. Mas na reunião ministerial da entidade em Hong Kong, em dezembro, os países tiveram grandes dificuldades para estabelecer quais seriam os níveis de cortes de tarifas e subsídios agrícolas. Para muitos, os europeus foram os principais responsáveis pela falta de avanço. Ontem, o governo alemão deixou claro que somente pode existir um acordo sobre agricultura quando os países emergentes abrirem seus mercados para produtos industriais.
Bruxelas ainda insiste que os países ricos devem dar uma ajuda à infra-estrutura dos países mais pobres, o que facilitaria a capacidade exportadora dessas economias. A proposta foi apoiada pela França, país que mais se opõe a abertura de seu mercado. ?Isso é insuficiente. O que dissemos é que esperamos que os países ricos não fiquem nessa pauta de apoio à infra-estrutura. É uma pauta parcial e não responde ao centro da questão, que são os subsídios e tarifas agrícolas. Para nós, interessa entrar no centro da questão, e não tocar no ponto apenas de forma tangencial?, atacou Palocci.
O ministro não acredita, porém, que a rodada sofra um retrocesso. ?A questão é saber se a negociação irá gerar pouco avanço ou se será ambiciosa?, disse. Em Hong Kong, ficou decidido que os subsídios à exportação para produtos agrícolas devem ser encerrados em 2013. ?É pouco, mas é um ganho?, avaliou Palocci, que acha que agora o processo da OMC deve continuar, caso contrário nem isso o Brasil irá obter.
Cúpula
Durante o encontro, a Grã-Bretanha propôs que os chefes de Estado promovam uma cúpula para tentar desbloquear o processo, idéia que teria partido do governo brasileiro, mas que não teve apoio de todos. Palocci admite que esse encontro pode ocorrer antes de abril, data que a OMC estabeleceu para fechar os entendimentos de questões que não conseguiram ser resolvidas em Hong Kong. ?A questão é saber quando devemos ter essa reunião para poder de fato gerar um resultado positivo?, afirmou o ministro.
Um dos obstáculos tem sido a má vontade dos franceses em lidar com o assunto da abertura comercial. Uma cúpula, portanto, poderia colocar o presidente Jacques Chirac em uma saia justa. Palocci acha que Chirac pode até participar com algumas restrições. ?Até o presidente francês pode ter interesse em colocar a questão em um outro nível?, avaliou.
Mas o tema sequer fez parte do comunicado oficial do encontro, divulgado para a imprensa mundial. A declaração do G – 8 se limitou a reconhecer que mais trabalho será necessário para concluir a negociação, e que se tenha em mente as necessidades dos países em desenvolvimento. O grupo pede que todos os países concordem em um pacote com resultados em agricultura, produtos industriais e serviços financeiros.
Durante a reunião, Gordon Brown, ministro de Finanças britânico, foi o mais crítico em relação às negociações e ainda alertou que o processo teve poucos avanços até agora. Por isso, garantiu que o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, irá se empenhar na convocação da reunião. Ele ainda relatou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, George W. Bush, Chirac e outros têm conversado ao telefone sobre o assunto nas últimas semanas.
?Achamos que se eles se encontrarem, haverá um impulso às negociações. Sem esse encontro, a rodada vai andar de forma muito lenta?, concluiu Palocci. O tema ainda entrou no comunicado final da reunião do G – 8 como uma das poucas referências ao encontro com os países emergentes.
Ministro garante que ?turbulências não se repetirão?
Moscou (AE) – O governo avisou ao G-8 (grupo dos oito países mais poderosos do mundo) que as turbulências econômicas ocorridas durante a campanha eleitoral de 2002 não se repetirão em 2006. Falando para os ministros das Finanças do grupo, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, garantiu que as perspectivas para este ano são ?muito boas? e que as expectativas são de um crescimento vigoroso. ?O cenário de 2006 está parecido ao de 2004.
A inflação está baixa, o risco está abaixo de 230 pontos, a taxa de juros está em queda, continuamos gerando 100 mil empregos por mês e a renda está crescendo. Esse é um cenário de bom crescimento?, disse a jornalistas após deixar o encontro.
A avaliação de Palocci não é a mesma das Organizações das Nações Unidas (ONU), que aponta que Brasil e México serão os países que menos crescerão na América Latina em 2006, comprometendo a média de expansão de toda a região.
Sobre o Brasil, os economistas da ONU estimam que a economia tenha um crescimento de cerca de 3%, o menor entre as principais economias emergentes do mundo. Segundo os cálculos da organização, o Brasil cresceu 2,5% em 2005 e a diferença para este ano, portanto, seria pequena.
Ainda de acordo com a avaliação da ONU, com juros altos, crescimento relativamente baixo e inflação dentro da meta, o Brasil teria espaço para adotar uma política macroeconômica menos rígida.
Falando para os demais ministros das Finanças do G-8 durante um café da manhã, Palocci apresentou os números da economia brasileira. ?Somos cada vez mais uma economia aberta?, afirmou o ministro, lembrando que a corrente de comércio é 78% maior que há três anos.
Quanto às taxas de juros no Estados Unidos, Palocci garante que não teme que um aumento nos próximos meses tenha conseqüências para a economia brasileira. ?Quando o Fed (o banco central americano) afirmou que aumentaria as taxas há dois anos, houve uma turbulência na América Latina. Depois disso, quando se estabeleceu o patamar de aumento nos Estados Unidos, o risco dos países latino-americanos começou a cair. Mesmo com aumento de juros por nove meses, o risco continua caindo na América Latina?.