Berlim (AG) – Há cinco anos, os europeus exageraram no otimismo e decidiram, durante uma importante reunião de cúpula, realizada em Lisboa, que a União Européia (UE) deveria superar os Estados Unidos na sua importância econômica até o ano de 2010. Mas hoje, depois de quatro anos de recessão em alguns países ou de crescimento baixo em outros, predomina um discurso bem mais realista.

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Para dar mais poder de ação a seus diversos países-membros, assolados pelo desemprego, a UE vai liberar o chamado ?pacto de estabilidade?. Com isso, os países poderão contrair mais dívidas do que o limite que existia até agora, de 3% do PIB, sem serem processados ou obrigados a pagar altas multas, desde que aleguem passar por ?um momento difícil?.

A decisão foi tomada no início da semana, durante a reunião de cúpula de Bruxelas, por influência sobretudo da Alemanha e da França, países que vêm desrespeitando o pacto nos últimos anos. Para os analistas, o afrouxamento do pacto poderá ter graves conseqüências para o euro, a moeda européia, e para a estabilidade na região. Por ironia, o pacto foi criado no inicio dos anos 90s por influência sobretudo da Alemanha, na época um modelo de estabilidade fiscal.

A medida é motivo de preocupação séria do Banco Central Europeu (BCE). O banco já cogita em aumentar os juros, atualmente em um dos níveis mais baixos do pós-guerra, em 2% ao ano, em reação ao excesso de déficit fiscal nos países da zona do euro.

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?A politica monetária terá que reagir ao afrouxamento do pacto?, disse um porta-voz do banco, em Frankfurt.

Além de um aumento dos juros, os analistas esperam uma desvalorização da moeda européia em relação ao dólar. Poucos dias depois do anúncio da decisão, a moeda perdeu, passando de US$ 1,33 para US$ 1,29, uma mudança que foi, também, reflexo do aumento dos juros nos EUA.

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Embora a UE tenha somente lançado a possibilidade de contração, em momentos difíceis, de mais dívidas do que o permitido, os economistas já falam em ?sepultamento do pacto de estabilidade?. Mas o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean Claude Juncker, que atualmente detém a presidência da UE, considera as reações exageradas. Em entrevista à revista Spiegel, ele explicou mais detalhadamente a mudança:

?Não se trata de estabilidade, mas do que precisamos fazer na Europa para fomentar o crescimento. Partindo desse cenário, precisamos tornar o pacto mais flexível nos momentos de dificuldade econômica?, disse Junker.

Enquanto muitos criticam a mudança, países da UE que tinham dificuldade de ingresso no clube exclusivo do euro vêem a mudança com otimismo. A Polônia vai entrar com pedido de adoção da moeda européia já no próximo ano, para que o zloty, a moeda local, seja trocado pelo euro até o ano de 2009. Nos próximos meses, deverão seguir a República Checa, a Eslováquia e a Hungria, países que ingressaram na UE no ano passado, que querem também o euro e que agora terão menos dificuldades em cumprir as exigências.