O governo do primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, conseguiu ontem uma captação acima do previsto para a primeira emissão de bônus de sua dívida e a Europa respira aliviada, mas apenas por um dia. Governos europeus voltaram a demonstrar que não têm uma estratégia clara sobre como lidar com a crise da dívida, abriram um novo conflito e ameaçam criar nova instabilidade.
O motivo agora é o tamanho do fundo de resgate que a União Europeia teria de manter para acalmar os mercados. A Comissão Europeia defende uma expansão. França e Alemanha são contra. Enquanto os políticos não tomam uma direção clara, os olhos do mercado estavam centrados no leilão de Portugal, considerado como um teste: se fracassasse, o governo de Portugal seria pressionado a buscar um resgate junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), contaminando a economia da Espanha e colocando o euro em mais um drama. Hoje, o teste é com Espanha e Itália, que farão as primeiras emissões do ano. Apesar da euforia, os bancos portugueses estão cada vez mais dependentes dos fundos de ajuda do Banco Central Europeu (BCE), em um sinal de fragilidade do sistema financeiro português e do risco que o país ainda corre.
Há um ano, a União Europeia não consegue dissipar as dúvidas do mercado sobre a capacidade de seus membros em honrar as dívidas. Primeiro, foi a Grécia, que teve de ser socorrida. No fim de 2010, foi a Irlanda. A bola da vez agora é Portugal. Mas o grande temor é que, se Lisboa cair, a economia espanhola estaria ameaçada. Para a UE, porém, não haveria fundo suficiente para salvar a quarta maior economia do bloco e seria a própria sobrevivência do euro que estaria sob risco.
Não por acaso, o resultado das emissões de Portugal foram amplamente comemoradas, com investidores mais tranquilos. No total, Portugal vendeu em leilão 1,24 bilhão em papéis de sua dívida, com uma demanda três vezes superior à oferta. Para o governo português, essa foi a prova de que os mercados continuam confiando nos planos de reforma de Lisboa. “Não precisamos de resgate. Só de confiança”, afirmou Sócrates. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.