São Paulo
– A euforia tomou conta do mercado. A empolgação dos investidores com o início do governo Lula levou o dólar a recuar 9,8% nos últimos 30 dias, para R$ 3,22, e o risco país a cair abaixo de 1.000 pontos, o que não ocorria desde maio de 2002. Na economia real, o cenário é bem diferente: o crescimento do PIB é fraco, devendo ficar entre 1,5% e 2% neste ano, o desemprego continua elevado e ninguém aposta em recuperação significativa da renda.Mas, segundo analistas, o otimismo do mercado pode antecipar, e ao mesmo tempo tornar possível, uma melhora da economia. Um dólar mais barato alivia a pressão sobre os preços e abre espaço para cortes de juros, condição indispensável para uma retomada da atividade econômica. O ex-presidente do BC Gustavo Loyola, sócio da consultoria Tendências, lembra que o mercado antecipa cenários, trazendo para os preços de hoje expectativas em relação ao futuro. Em 1999, por exemplo, o PIB cresceu 0,8%, mas a Bolsa subiu 151,9% em termos nominais e 70,2% em dólares.
Além de refletir a reversão do temor de que a flutuação do câmbio poderia provocar uma ruptura, a alta das ações indicou a expectativa num crescimento mais forte no ano seguinte, o que aumentaria os lucros das empresas. Isso se confirmou, e o PIB avançou 4,4% em 2000.
Loyola ressalta que o dólar a R$ 3,22 e o risco país a 937 pontos indicam a melhora da percepção dos investidores em relação ao governo Lula, que tem adotado uma política fiscal austera e mostra empenho para aprovar reformas como a da Previdência. Ele acredita que, se os indicadores financeiros mantiverem a atual tendência positiva, a economia real será beneficiada neste ano.
O recuo do câmbio deve acentuar a queda da inflação, apontada por índices como o IPC da Fipe, que ficou em 0,67% em março, ante 1,61% em fevereiro. Quando a inflação estiver sob controle, o BC pode cortar os juros, o que deve permitir uma expansão mais forte da economia no segundo semestre. O tombo do risco país, que mostra o quanto os títulos da dívida externa rendem acima dos papéis do Tesouro americano, também é fundamental para uma redução consistente da taxa Selic. Loyola aposta num crescimento de 2% neste ano.
O economista-chefe do Banco JP Morgan, Luís Fernando Lopes, também acredita numa expansão mais intensa no segundo semestre. Nesse momento, empresários e trabalhadores deverão notar alguma melhora na economia, hoje praticamente restrita aos indicadores financeiros.
Lula pode deixar economia forte
Londres – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode criar as condições para que no final de seu mandato a economia brasileira esteja muito mais estável e menos vulnerável aos choques externos. A manutenção de políticas macroeconômicas sólidas e a implementação de reformas aliadas a um cenário financeiro internacional favorável aos mercados emergentes poderão levar o país a um crescimento sustentável nos próximos anos. A avaliação é do economista Guillermo de la Dehesa, presidente do Center for Economic Policy Research, centro de estudos de Londres que reúne renomados economistas, acadêmicos e banqueiros de todo o mundo. “Estamos vendo um início de governo muito positivo e Lula tem a chance de finalizar o seu atual mandato com o país numa situação muito melhor”, disse Dehesa, ao avaliar os primeiros cem dias do governo. O economista considerou “excelente” a atual condução da políticas monetária e fiscal, ressaltando a determinação do Banco Central em combater uma escalada inflacionária. Alerta, no entanto, que o governo ainda terá que enfrentar riscos. A aprovação de reformas, principalmente a da previdência, “poderá ser mais lenta do que o previsto” diante de resistências políticas.