Washington – A visita que o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, fará ao Brasil na próxima semana, apenas alguns dias depois das conversas que ele e o representante de Comércio Exterior americano (USTR), Robert Zoellick, tiveram em Washington com o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, marcará uma intensificação do diálogo entre os dois países e desmentirá especulações sobre o impacto negativo da posição crítica brasileira à guerra do Iraque.

Snow, que se reuniu com especialistas em Brasil na quarta-feira para preparar-se para a visita, desembarca na próxima terça-feira, uma semana depois da passagem pelo País do secretário de Estado adjunto para não-proliferação, John Wolf.

Zoellick estará em Brasília no final de maio. Um pouco antes ou um pouco depois de sua visita, o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, Marc Grossman, irá ao Brasil para retomar, com o governo Lula, as consultas políticas semestrais iniciadas em 1999 como parte de um esforço para institucionalizar o diálogo. A visita de Grossman, inicialmente marcada para o fim de março, foi adiada por causa da guerra no Golfo Pérsico.

O movimento não é apenas num sentido nem se limita ao executivo americano. Esta semana, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, estará em Washington, para conversas com sua colega americana, Ann Veneman, na primeira de duas viagens previstas aos EUA nos próximos dois meses. O governo americano aguarda confirmação de uma visita da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no fim do mês. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, é esperado em Washington em breve. Paralelamente, pelos menos duas delegações de congressistas americanos visitarão o Brasil nas próximas semanas.

Esses contatos devem culminar com encontros entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush ainda este ano: uma cúpula bilateral, em lugar e data ainda a serem determinados, e uma cúpula hemisférica, no México, que provavelmente acontecerá depois do encontro Lula-Bush.

Dias antes de as tropas americanas e britânicas entrarem no Iraque, no mês passado, o diretor de planejamento político do Departamento de Estado, embaixador Richard Haass, num encontro com latino-americanistas em Washington, disse que, terminada a guerra, a administração responderia com ações às críticas de que voltou as costas para o continente após os ataques de 11 de setembro. Em relação ao Brasil, Haass destacou a satisfação da administração americana com a decisão tomada no início do ano passado de engajar-se em diálogo com Lula e impedir que impulsos ideológicos, que são fortes dos dois lados, envenenassem a relação.

Palocci causou boa impressão

Para o presidente do Diálogo Interamericano, Peter Hakim, a busca de um diálogo mais intenso com o Brasil, refletido pelos contatos de alto nível, confirma a opção da conservadora administração americana por um relacionamento pragmático com a administração Lula. “As pessoas estão muito positivas sobre o Brasil em Washington”, disse ele. “Palocci causou a melhor impressão, e não apenas porque disse o que todo mundo queria ouvir”, explicou. “Ele mostrou que o governo tem plena consciência das dificuldades políticas que enfrentará para levar adiante as reformas e tem também a determinação necessária para fazer o que precisa ser feito.”

Segundo Hakim, duas coisas operam a favor do Brasil em Washington. “Em termos absolutos, são muito bons os resultados obtidos pelo governo Lula até agora, como a queda dos juros internacionais, a valorização do câmbio e a retomada da confiança”, disse ele. “Agora, medidos contra as expectativas, que não eram muito altas no governo americano, esses resultados são excelentes e aumentam o interesse de Washington no Brasil, que é, no momento, o único país da região que está indo bem e produzindo boas notícias.”

Contribui para isso, também, o fato de o México e o Chile, os países que os EUA apresentou como modelos para o resto do continente nos últimos dez anos, terem sido postos na geladeira pela administração Bush, por sua recusa em apoiar a posição americana sobre o Iraque no Conselho de Segurança da ONU.

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