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EUA atraem brasileiro empreendedor

Há três meses, Renan Sampaio Rocha, de 30 anos, e a mulher Clarissa, de 27 anos, inauguraram a empresa de eventos Media Click em Miami, na Flórida, região que concentra a maior parte dos brasileiros que vive nos Estados Unidos. Recentemente, eles fizeram duas grandes festas, uma de aniversário de 16 anos de uma garota americana (equivalente à tradição brasileira para adolescentes de 15 anos) e um casamento de judeus de origem americana e israelita.

Apesar da concorrência no ramo ser grande, Rocha diz que o diferencial da empresa “é o atendimento, feito com muita simpatia, qualidade e rapidez nos serviços”. Um dos atrativos que eles oferecem é o Photo Booth (cabine de fotos) que virou mania nas festas. Noivos e convidados se divertem com diferentes adereços à disposição para tirar as fotos e recebem a cópia na hora. “Temos um aplicativo próprio que dá qualidade às fotos impressas”, afirma ele.

O casal largou negócios em Fortaleza (CE) aos cuidados de sócios e, após um ano de planejamento, foi para os EUA, onde a mulher tem aulas de inglês. Além de escapar da violência que cresce no Brasil, ele diz que estava farto da burocracia exigida de quem quer empreender. “Aqui tudo é mais rápido.”

Como Rocha e Clarissa, um número crescente de brasileiros está migrando para os EUA para empreender, cenário diferente de anos atrás, quando iam em busca de emprego. Para esses casos, o governo americano oferece um atrativo – o visto EB-5, que dá direito ao Green Card temporário para o empreendedor, cônjuge e filhos com até 21 anos, e possibilidade de obter cidadania se as metas do projeto forem atingidas, como gerar dez empregos em dois anos.

No dia 22 de agosto, 110 pessoas participaram de apresentação na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) sobre o processo de internacionalização de empresas. O evento foi organizado pelo Global Business Institute (GBI), escritório de negócios fundado por brasileiros em Miami para assessorar conterrâneos e latino-americanos que querem abrir empreendimentos no país e teve também, no dia seguinte, uma rodada em Curitiba com a presença de 80 interessados no tema.

Custo alto

Ficar legalmente nos EUA tem custo de pelo menos US$ 500 mil (cerca de R$ 2 milhões pelo câmbio atual), valor mínimo para o investimento no novo negócio, fora custos com advogados e consultores. A partir de novembro, essa exigência sobe para US$ 900 mil para quem aplicar em áreas com maior carência de empregos, e de US$ 1 milhão a US$ 1,8 milhão para as demais áreas. O governo americano distribui 10 mil vistos por ano nessa modalidade para cidadãos de vários países.

No ano passado, foi emitido número recorde de 388 vistos EB-5 para brasileiros, 37,6% a mais em relação ao ano anterior. Entre 2010 e 2015, foram 149 vistos. Nos últimos três anos, período de crise econômica e instabilidade política, foram 820. A maioria se estabelece em Miami ou outras cidades da Flórida, onde vivem cerca de 400 mil brasileiros e uma enorme população hispânica. Também foi o período com maior número de registros de saída definitiva do Brasil (ver quadro).

“De 2014 para cá mudou o perfil dos brasileiros que vêm para os EUA: eles querem entrar de forma oficial e empreender”, diz Manoel Suhet, presidente do GBI. “O ambiente aqui é muito favorável ao empreendedorismo, há segurança jurídica e financeira e acesso mais democratizado à tecnologia.”

Atento a esses atrativos, em 2014, Francisco Moura Junior criou a ATM Club, especializada na implantação e gestão de redes de caixas eletrônicos para saques. Segundo ele, é um negócio em crescimento no país, onde a população prefere usar dinheiro a cartões em diversas operações, inclusive porque há descontos para essa opção de pagamento. A rede ATM espalha suas máquinas em locais como postos de combustível, salões de cabeleireiro, lojas de bebidas e hospitais.

Inicialmente, Moura e um sócio também brasileiro adquiriram 30 caixas eletrônicos. Com o crescimento do negócio, passaram a oferecer as máquinas para terceiros e atuar apenas na administração. O saque no caixa, independentemente do valor, tem taxa de US$ 2,99, valor dividido entre o dono da máquina, o proprietário do local onde está instalado e os administradores.

“Nós fornecemos serviços de manutenção, contabilidade e limpeza dos equipamentos”, diz Moura. O investidor precisa adquirir no mínimo dez máquinas, a um custo aproximado de US$ 100 mil. O retorno, segundo ele, é de 6% a 8% do valor investido no primeiro ano e depois vai aumentando.

Moura vendeu sua corretora no Brasil e decidiu morar nos EUA “para buscar uma vida diferente para os filhos e mais segurança”, principalmente após assaltos sofridos por sua mulher. Aos 39 anos, administra 500 caixas eletrônicos instalados em cidades da Flórida e em Nova York (60% deles nas mãos de brasileiros). Ele tem planos de chegar a mil caixas e ter, pelo menos, uma máquina em cada um dos 50 Estados americanos.

“Há dois fundos americanos interessados em comprar parte da empresa, um para manter o modelo atual e outro para transformar o negócio em fundo de investimento”, diz Moura, que avalia as propostas.

Suhet, de 45 anos, atua como consultor desde 2017, quando deixou cargo de diretoria na Latam. Segundo ele, é preciso fazer pesquisa de mercado, planejamento e entender o público e as leis locais para ter sucesso no negócio. Ele fala de casos que começaram pequenos e estão fazendo sucesso, como uma brasileira que passou a vender camisetas com fotos de santos e abriu um negócio voltado a “roupas católicas”. Também o de um médico que começou a produzir picolés e hoje tem 150 pontos de venda na Flórida.

Empresas oferecem cotas de projetos nos EUA para estrangeiros

Diante do interesse de brasileiros em abrir negócios nos Estados Unidos, avança também o número de empresas voltadas para assessoria nesse processo.

A LCR Capital ajuda brasileiros a entrar legalmente nos EUA. A empresa oferece cotas de projetos nos EUA para os empreendedores globais. O investimento para obter o EB-5 (visto que dá direito ao Green Card temporário para o empreendedor) é feito em empreendimentos locais, normalmente em regiões nas quais o índice de desemprego é superior à média nacional. Os valores mínimos seguem as mesmas regras, dos atuais US$ 500 mil.

Ana Elisa Bezerra, vice-presidente da LCR, fala de regras como comprovação de que a renda a ser aplicada tem origem legal. O último projeto oferecido foi o financiamento da construção de um hotel Four Seasons em Miami. “Das 200 cotas que nosso escritório tinha para oferecer globalmente, mais de 50 foram adquiridas por brasileiros e mais de 70 por indianos”, diz.

“Como é um investimento de risco, é preciso escolher bem os projetos”, afirma Ana Elisa. Quem faz o investimento pode entrar com pedido do EB-5 que, segundo ela, pode demorar até dois anos para ser liberado. O novo projeto, previsto para ser lançado em novembro, é a construção do Hall Arts Hotel and Residences, hotel butique de luxo e arranha-céu residencial em Dallas, Texas.

Em maio, Jaime Stupiello tornou-se imigrante legal após dois anos de espera pelo EB-5. O filho já está no país há dois anos como estudante num curso de aeronáutica. “Desde criança, ele sonhava em ser piloto da Força Aérea Americana”, diz. Stupiello, que atuava no setor sucroalcooleiro e sua mulher, professora e tradutora juramentada, decidiram abrir mão de tudo no Brasil para acompanhar o único filho, de 17 anos.

Stupiello investiu no projeto do hotel em Miami e agora, já morando em Sarasota, na Flórida, vai abrir, com a mulher, uma franquia da Home Helpers, que oferece acompanhantes para idosos.

Segurança

Após fazer curso de inglês, trabalhar como garçom, abrir um lava-rápido e um restaurante self-service de comida brasileira, Gilson Marçal Rodrigues, hoje com 46 anos, inaugurou em maio deste ano um novo restaurante com capacidade para 1.054 pessoas (o anterior era para 160 pessoas) e espaço para shows que pode receber até 1,5 mil pessoas. O Gilson’s Restaurant fica na principal avenida de Orlando, a International Drive.

Ele e um sócio também brasileiro investiram US$ 1,5 milhão no novo espaço, onde se apresentaram artistas brasileiros, como Alexandre Pires, e latinos. Parte da verba veio da venda do restaurante antigo. Segundo Rodrigues, em períodos de alta temporada, 55 pessoas trabalham no local. No ramo em que atua, marcas como Coco Bambu, Madero e Paris 6 não tiveram sucesso nos EUA e encerraram as atividades.

Paulo Leal também passou por assaltos e teve o apartamento invadido no Rio de Janeiro. Decidiu se mudar para os EUA em 2016 com os dois filhos, inicialmente como acompanhante da mulher, que foi fazer um curso e recebeu visto de estudante. Formado em administração de empresas e com MBA em negócios, ele e um amigo que já vivia no país criaram a EasySim4You, empresa que fornece chip de celulares para viajantes.

“A ideia era acabar com o perrengue que muitos brasileiros passam ao chegar nos EUA e ter dificuldade em encontrar um chip que sirva para suas necessidades ou ficar caçando locais que tenham Wi-Fi”, diz Leal. Recentemente ele vendeu sua parte do negócio para o sócio e fundou a EasyStay, portal de locação de casas de veraneio nas redondezas de Orlando.

O portal tem cerca de mil casas para locação em áreas privilegiadas, a maioria de grande porte, “para oferecer uma experiência bacana” aos turistas que permanecem mais tempo na região, não querem ficar em hotéis e não encontram imóveis desse tipo em sites como o Airbnb. “Não aceitamos casas velhas e temos poucos apartamentos pequenos”, diz Leal.

Uma casa com cinco quartos e capacidade para 12 pessoas custa em média US$ 170 a diária. “Um hotel simples para quatro pessoas sai por US$ 90 a US$ 100 a diária”, diz ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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