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Trabalhadores não acompanharam o crescimento do setor. |
São Paulo – O setor de petróleo já sofria dificuldades em encontrar profissionais qualificados no Brasil. A descoberta de novos poços no território brasileiro e o crescimento de um combustível concorrente – o etanol – tornou ainda mais raro e caro o executivo ou engenheiro especializado nos combustíveis fósseis.
?A mão-de-obra não acompanhou o crescimento do setor e os profissionais qualificados tornaram-se extremamente difíceis de encontrar?, diz o gerente de óleo e gás da consultoria Michael Page, Leonardo de Souza. ?Algumas empresas que chegaram recentemente ao Brasil trouxeram pessoas de fora. E a situação tende a piorar.?
Nos três primeiros meses deste ano, a indústria paulista criou 57 mil vagas. Destas, 42 mil foram no setor sucroalcooleiro. ?Esse crescimento do etanol despertou interesse em quem pensava em trabalhar com combustíveis?, diz Souza. ?Com tantas ofertas, as empresas de óleo e gás têm de oferecer altos salários e benefícios para segurar seu profissional.?
A Petrobras fez, no fim de 2006, um concurso para selecionar alunos para cursos de especialização em petróleo, para trabalhar nas prestadoras de serviço que atendem a estatal. Só em São Paulo, seriam criadas 2.068 vagas, mas não houve classificados suficientes para preencher as turmas paulistas.
Um estudo do Ministério de Minas e Energia apontou a necessidade de 110 mil profissionais para o setor até 2010. Destes, no mínimo 3 mil necessitam de nível superior – em geral em Engenharia, porém a direção de equipes pode contar com pessoas de outras áreas.
O diretor aponta, no entanto, que profissionais de álcool e petróleo são muito diferentes. ?O conhecimento técnico é outro, e na área de petróleo ele é muito específico. As empresas dificilmente conseguem trazer pessoas de outras áreas.?
?A formação de um profissional destes leva de 10 a 12 anos?, explica o diretor do Centro de Estudos de Petróleo da Unicamp (Cepetro), Saul Suslik. ?Aqui no centro, vimos recentemente uma busca desenfreada por pessoas com especialização em geologia, para atuarem na produção, por exemplo.?
Os coordenadores de Recursos Humanos da El Paso, empresa americana que possui a concessão de 17 blocos da Agência Nacional do Petróleo, realizaram ontem cursos na busca de pessoas para liderar a exploração em Camamu, na Bahia.
?Ou as empresas capacitam seus próprios profissionais, ou tentam buscá-los em outras empresas oferecendo melhores salários e benefícios?, explica José Renato Almeida, coordenador do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) na Petrobras. ?Mas salários chegam a um limite Os inspetores de solda e ultra-som geológico, por exemplo, são cargos de nível técnico que ganham cerca de R$ 20 mil?, explica Almeida. Gerentes e diretores ultrapassam este valor.
O Prominp é um curso de especialização criado pelo governo federal para suprir a demanda de profissionais. ?Não só para atender à Petrobras, mas o setor como um todo. Se isso não fosse feito, haveria uma invasão de estrangeiros no Brasil nos próximos anos?, diz Almeida. O governo federal vai investir R$ 300 milhões no programa, realizado em 17 estados.