economia

Estudo mostra estagnação na redução da desigualdade no Brasil entre 2011 e 2014

O Brasil perdeu a batalha para redução da desigualdade nos primeiros quatro anos desta década. Estudo feito pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (Pnud) em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro mostra que a distância entre grupos mais ricos e mais pobres da população seguiu inalterada entre 2011 e 2014 e com diferença considerada pouco expressiva com relação a 2000.

Uma das coordenadoras do trabalho, a Andrea Bolzon, do Pnud, avalia que programas de transferências de renda e a política de valorização do salário mínimo exerceram uma proteção de grupos mais vulneráveis, mas, sozinhos, não foram suficientes para diminuir a grande distância entre ricos e pobres. Para avançar na redução dessa diferença, avalia, seria importante a adoção de outras medidas, como, por exemplo, a taxação de grandes fortunas.

Para autores, não há ainda como se mensurar qual o impacto das propostas de ajuste econômico feito pelo governo nos indicadores de desenvolvimento humano do País.. “Temos de aguardar”, avaliou Marco Costa, um dos autores do trabalho.

O estudo lançado nesta terça-feira, 22, é batizado de Radar IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano de Município). Os resultados são obtidos a partir da análise das informações da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) e têm como objetivo “atualizar” um outro indicador, o IDHM que, por sua vez, é feito a partir dos dados do Censo, coletados a cada 10 anos.

Tanto Radar IDHM como o IDHM são compostos por três indicadores de desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda. O índice varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano. São cinco classificações: muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto.

Os dados do Radar IDHM mostram que, apesar da crise, os indicadores de desenvolvimento humano no Brasil melhoraram ao longo de 2011 e 2014. No período, afirmam os autores, a expectativa de vida melhorou, os anos de estudo aumentaram e até mesmo a renda se elevou. O relatório atribui o avanço no início da década à natureza dos dados. Os indicadores avaliados teriam sensibilidade diferente ao desempenho da economia. Os efeitos da crise também seriam amortizados em parte pela rede de proteção social existente no País.

A melhora foi mantida, mas numa velocidade muito menor do que em outros períodos. O IDHM apresentou um crescimento anual de 1% entre 2011 e 2014. O ritmo foi inferior ao crescimento apresentado na década 2000-2010, quando a média de crescimento do IDHM foi de 1,7% ao ano – uma redução de 41%.

A longevidade e a educação cresceram no período, mas também num ritmo menor do que o identificado entre 2000 e 2010. A queda na velocidade foi, respectivamente, de 50% e 55%.

Autores do trabalho mostraram-se especialmente preocupados com o desempenho na área da educação. “Esse é o grande gargalo”, constata Andrea. O documento chama a atenção, por exemplo, para a estagnação no porcentual de pessoas com 18 anos ou mais que apresentem ensino fundamental completo. Em 2011, representavam 60,1% do total. Em 2014, eram 61,8%.

Curiosamente, a renda apresentou nos primeiros quatro anos desta década um avanço mais rápido do que entre 2000 e 2010. Pesquisadores não esconderam a surpresa com os dados da renda e lançaram dúvidas sobre o que vai acontecer com próximos dados, sobretudo com o agravamento da crise econômica.

As diferenças existentes no Brasil ficam evidentes quando se analisa os dados de Estados. Em Santa Catarina, a esperança de vida ao nascer é de 78,4 anos – 14 a mais do que a esperança de nascidos no Maranhão. As oportunidades de renda também destoam de acordo com a localização. A renda per capita no Distrito Federal, de R$ 1.606, é quatro vezes maior do que a apresentada em Alagoas, R$ 414.

Tamanha disparidade se reflete nos indicadores do País. O Brasil apresenta um mix de classificações de desenvolvimento humano. No quesito educação, por exemplo, são encontrados Estados com todas as classificações de IDH. Pará e Sergipe são considerados de baixo desenvolvimento humano. Outros 16 são classificados como de médio

desenvolvimento, oito estão no grupo de alto desenvolvimento e São Paulo, considerado como de desenvolvimento humano muito alto.

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