A deterioração da situação fiscal, a instabilidade política e a investigação da Lava Jato vão continuar afetando negativamente a qualidade do crédito de emissores dos setores público e privado do Brasil ao longo de 2016, segundo relatório da agência de classificação de risco Moody’s.
Esses fatores levaram à queda dos níveis de emprego e de consumo e dos salários reais, o que motivou a Moody’s a prever que a economia brasileira terá contração de 3% em 2015 e de 1% em 2016.
“Não vemos como a posição fiscal do Brasil pode melhorar no curto prazo devido à falta de consenso político, que tem impedido a administração atual de gerar superávits primários suficientemente grandes para conter o avanço do nível de endividamento”, afirma Mauro Leos, vice-presidente e analista sênior da Moody’s. “Não acreditamos que o Brasil possa alcançar crescimento real de 2% e superávits primários de pelo menos 2% do PIB até 2017-2018, o que é necessário para estabilizar a relação dívida/PIB.”
Como resultado, o perfil de crédito de emissores da maioria dos setores no Brasil será pressionado pela demanda mais fraca, aumento nos custos de empréstimos, elevação da inadimplência e investimentos menores, de acordo com o relatório.
Embora a maioria dos emissores não-financeiros com grau de investimento que a Moody’s avalia no Brasil tenha posição de liquidez adequada até pelo menos meados de 2016, o acesso aos mercados internacionais ficará mais caro para que os que não possuem grau de investimento, afetando seus planos de expansão e de melhoria de capital, diz o relatório.
A Moody’s prevê que os preços fracos do petróleo, metais e produtos agrícolas vão prejudicar o desempenho operacional da Petrobras, da Vale e de outros produtores de commodities. Além disso, a recessão brasileira e o baixo nível de confiança dos consumidores devem pressionar a demanda nos setores de telecomunicações, construção e de empresas aéreas, mas a fraqueza do real deverá beneficiar exportadores de proteína e de produtos florestais, segundo a agência.
“E mesmo companhias de infraestrutura não associadas à Petrobras enfrentarão custos mais elevados de financiamento, uma vez que a alta dos juros nos mercados global e doméstico, aliada à preocupação dos investidores com a posição fiscal do país, limita o acesso aos mercados internacionais”, diz a Moody’s.
A agência também avalia que os riscos também estão aumentando para os bancos brasileiros, diante da alta nas taxas de inadimplência e da rentabilidade pressionada, embora o setor bancário esteja adequadamente capitalizado e deva ser capaz de absorver eventuais perdas.
A Moody’s também espera que as companhias de distribuição de eletricidade continuem recorrendo aos mercados domésticos para financiar suas necessidades de capital e prevê que a demanda menor por energia beneficiará as geradoras hidrelétricas.