O ano de 2008 marcará o recorde de fuga de capital estrangeiro na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). No acumulado de janeiro a 26 de dezembro, segundo dados da Bovespa, o déficit (diferença entre compra e venda de papéis) soma R$ 24,6 bilhões. É o desempenho mais fraco desde 1994, quando a Bolsa começou a publicar os dados de movimentação de recursos. Em 2007, pior resultado até então, os estrangeiros tiraram R$ 4,2 bilhões. A alta foi de 481% de 2007 para 2008. Na terça-feira, deve ser divulgado o fechamento do ano, que incluirá mais dois dias de pregão. Os analistas não acreditam que haverá uma alteração muito grande no valor conhecido até agora.
O volume de recursos retirado pelos estrangeiros é resultado das perdas financeiras globais. Para tapar os buracos causados pelos grandes prejuízos, foi preciso diminuir, drasticamente, a posição no mercado acionário. “Houve uma fuga. A situação começou a ficar mais complicada a partir do terceiro trimestre, com a quebra do banco Lehman Brothers. Para 2009, a previsão é de melhora, mas ainda é cedo para dizer quando isso vai acontecer. Dependerá do comportamento do emprego e da produção”, diz a chefe da Área de Ações da Ativa Corretora, Luciana Leocádio.
A aversão ao risco, afirma o economista-chefe da Ágora Corretora, Álvaro Bandeira, levou muitos dos investidores estrangeiros a posições mais conservadoras, como as aplicações em renda fixa. Outra opção que tem se mostrado atraente são os títulos do governo. Com um relativo otimismo, Bandeira afirma acreditar que os estrangeiros poderão voltar à bolsa ainda no primeiro semestre. “Vai depender dos dados globais e corporativos. Por enquanto, o que se observa é que os ativos estão depreciados e a possibilidade de ganho com ações no médio e no longo prazo existe”, opina.
O capital internacional que se interessar pelos papéis brasileiros encontrará boas oportunidades de negócio. Isso porque a desvalorização dos papéis desde o início da crise foi grande. De acordo com levantamento feito pela corretora Souza Barros, hoje, o estrangeiro consegue comprar 17,68% a mais de ações das cinco empresas com maior liquidez listadas na Bovespa (Petrobras, Vale, Bradesco, Itaú e Companhia Siderúrgica Nacional) do que comprava há um ano. Além da baixa no preço dos papéis, quem detém dólares contou com o benefício da valorização da moeda de 44% no ano passado. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.