A estiagem que atinge o Paraná nos últimos dias é considerada por especialistas como um dos principais fatores que contribuíram para o aumento do preço final da arroba do gado de corte.
Segundo do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), houve um aumento de 8% no preço da arroba do boi, se comparado agosto de 2009 com o período atual. Há um ano a arroba custava R$ 74,80. Atualmente está em R$ 80,59, segundo o Deral.
De acordo com Adélio Borges, chefe do setor de bovinocultura de corte do Deral, a ausência de chuva afeta diretamente a qualidade do pasto, principal fonte de alimento do rebanho e essencial para engorda dos animais para o abate.
“No final das contas é o consumidor final que vai pagar por isso no momento da compra dos cortes. Com a seca os bovinos não têm pasto para comer, isso reflete no aumento do preço da carne para o consumidor final, conforme verificamos nesse período”, explica. De acordo com ele, “mais de 95% do gado no Paraná é criado no pasto”.
Além da questão da estiagem, o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarne), Péricles Salazar, aponta a redução do plantel bovino, a partir de 2007, como fator que interfere na situação atual.
“Muitos pecuaristas desistiram da cultura e venderam suas matrizes a partir daquela época. Muitos foram para outras atividades e até mesmo arrendaram suas terras para produção de etanol ou soja. Com o plantel bovino menor e o aumento dos frigoríficos, houve o desequilíbrio para a oferta de animal e demanda dos frigoríficos”, explica.
Para Salazar, a reposição de animais abatidos também pode ter interferido para esse aumento do preço. “Quando o produtor vende ou abate a matriz deve repor pelo menos duas vezes e meia o que ele retirou. Esses fatores combinados fizeram com que o preço dos cortes aumentassem. Quanto maior o preço do boi no pasto, maior o preço para os frigoríficos e, consequentemente, para o consumidor final”, relaciona.
Questionado sobre os preços, Borges, do Deral, afirma que daqui para frente o valor poderá variar em relação ao comportamento do clima. “Mesmo chovendo logo teremos que verificar a situação das pastagens. Uma coisa é certa: a chuva pode contribuir para o gado não emagrecer, mas não vai baixar os atuais preços”, frisa.
Por conta do preço alto, Salazar estima que os consumidores mudem o cardápio. “O bolso do consumidor é o limite para essa situação. Nós dos frigoríficos não podemos esperar que o consumidor continue comprando com preços altos. Ele vai mudar para outras carnes. A população já demonstra que não está disposta a pagar o preço que está sendo cobrado”, diz.
Segundo ele, a alta faz parte de um ciclo, que logo deverá baixar. “É preciso ressaltar que numa próxima conjuntura isso poderá mudar. É uma gangorra, mas devemos ter consciência que ninguém consegue revogar a lei da oferta e procura”, opina.
Problema deve atingir também o leite
Ao mesmo tempo em que a ausência de chuva traz problemas aos envolvidos com a criação do gado de corte, o calor intenso preocupa produtores de leite do Paraná.
Segundo a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), as vacas holandesas reduzem a produção por sofrerem com o calor registrado nesse mês. Em todo o Paraná, existem cerca de 114 mil produtores de leite, segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes).
“Por enquanto não registramos problemas na produção de leite no Paraná, mas acredito que se a estiagem continuar certamente teremos reflexos negativos na produção e, consequentemente, no preço final do produto ao consumidor”, explica Maria Silvia Digiovani, assessora da Comissão de bovinocultura de leite da Faep.
Segundo ela, o aume,nto poderá ser grande, pois não é apenas o Paraná que vai sofrer as conseqüências caso não chova. “Em outros estados a seca também está presente. Exemplo disso é Minas Gerais, o maior produtor de leite do Brasil”, relaciona.
O alerta da estiagem vale também para os produtores de trigo de Maringá, na região noroeste do Paraná. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), a ausência de chuva poderá gerar perda de 20% a 30% do total de plantas que estão em formação naquela região. Segundo o Deral, esse alerta vale apenas para as propriedades que estão com o trigo na fase de floração ou frutificação.
Bloqueio
De acordo com o Instituto Tecnológico Simepar, a tendência é que uma frente fria comece a romper o bloqueio atmosférico que gerou as temperaturas altas e os baixos índices de umidade no Paraná.
“Por conta da entrada de uma fraca frente fria, as temperaturas poderão baixar um pouco a partir de segunda-feira. Depois disso poderemos ter chuvas”, explica a meteorologista Ana Beatriz Porto.