As adversidades climáticas, especialmente a estiagem prolongada, reduziram a estimativa de produção do trigo e do milho segunda safra e provocaram nova revisão na projeção da safra 2002/2003 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o levantamento de julho, a safra atual deverá atingir 98,74 milhões de toneladas, resultado apenas 0,20% superior aos 98,54 milhões da safra anterior. A previsão de junho apontava uma colheita de 99,3 milhões de toneladas.
Mas, diante do aumento ocorrido na safra agrícola anual do País desde 1994 (quando foi de 75,17 milhões de toneladas), o chefe do Departamento de Agropecuária do IBGE, Carlos Alberto Lauria, observa que o pequeno crescimento previsto ante a safra passada não deve ser considerado um resultado ruim. ?Só o fato de estarmos perto dos 100 milhões de toneladas já é um ganho?, disse. Ele sublinhou que os avanços tecnológicos da agricultura brasileira nos últimos anos possibilitaram que a safra saltasse mais de 20 milhões de toneladas entre os resultados apurados em 94 e a projeção atual.
Ele observou que o crescimento ocorreu apesar de mudança pouco significativa da área plantada no período, que passou de 38,35 milhões de hectares em 1994 para 39,62 milhões neste ano. Segundo Lauria, os ganhos tecnológicos ocorreram sobretudo por causa das máquinas utilizadas no campo, melhoramento de sementes aplicação de defensivos agrícolas e melhor uso do solo.
A previsão divulgada hoje (29) foi a sétima do IBGE neste ano. A primeira, de janeiro, apontava uma safra de 97,07 milhões de toneladas. Lauria enfatizou que dificilmente ocorrerão mudanças significativas até a confirmação final da safra pelo instituto, no início do próximo ano.
A nova projeção foi resultado da redução nas estimativas de produção do milho em grão segunda safra (-8,51%) e do trigo (-2,76%) em julho. Segundo o IBGE, a queda na estimativa de produção do milho segunda safra resultou de condições climáticas adversas, que levaram à diminuição da safra em Estados produtores como São Paulo (-22%), Paraná (-11%) e Mato Grosso do Sul (-9%). No caso do trigo, a diminuição na estimativa foi consequência da seca no Paraná, que levou a uma redução de 13% no índice de produtividade no Estado.
A produção prevista para o trigo será a maior em dez anos, segundo Lauria. A safra do produto, que deverá atingir 4,1 milhões de toneladas, é a maior desde 1992. Ele lembrou que na safra passada foram colhidos 3,2 milhões de toneladas, número maior do que o registrado em 2000 (1,7 milhão de toneladas). Lauria explicou que o crescimento foi resultado dos incentivos do governo para a cultura e da crise na Argentina, de onde vem a maior parte do trigo importado pelo Brasil. ?Continuamos importando cerca de 70% do trigo que consumimos, mas no ano passado esse porcentual chegava a 80%?, explicou.