Estiagem e demanda encarecem alimentos, diz Fipe

A estiagem prolongada e o aumento da demanda nesta época do ano estão pressionando ainda mais a inflação de alimentos dos paulistanos. De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os preços dos produtos alimentícios mais suscetíveis ao clima seco, como frutas, legumes e verduras, avançaram de maneira expressiva nos últimos dias. O mesmo acontece com as carnes bovinas, que também passam por um período menos favorável, refletindo a demanda aquecida internamente, exportações em alta e a menor oferta de animais para abate, também por causa de pastagens comprometidas em regiões produtoras, como o Sudeste e o Centro-Oeste. As carnes suínas e de frango pegam carona nesse movimento de alta. Por outro lado, ovos e leite estão mais baratos na cidade de São Paulo, como constata a Fipe.

“É a combinação de vários fatores. Tem uma ligação com o clima, mas também pesa a sazonalidade. Outro fator é o câmbio depreciado, no caso de carnes e algumas frutas que são exportadas”, explicou André Chagas, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que a mede a inflação na cidade de São Paulo. Segundo ele, o avanço nas exportações de carnes, por causa de problemas geopolíticos e do dólar em relação ao real, acaba por elevar a concorrência no mercado doméstico. “Acaba tendo uma transmissão automática do câmbio.”

No IPC-Fipe da terceira quadrissemana de outubro (últimos 30 dias terminados no dia 22), que subiu 0,37% ante 0,34% na segunda leitura, as frutas tiveram elevação de 3,45% (de 2,89%). Com a ajuda do tomate (15,27% ante 7,32%), os legumes tiveram variação positiva de 6,48% (de 3,27%) e, impulsionado pela alface (4,22% ante 5,37%), as verduras tiveram elevação de 2,54% (de 2,72%). “Esses alimentos devem dar o tom da inflação nas próximas pesquisas. Nas frutas, houve alta generalizada, com destaque para a laranja (6,15% ante 4,92%), influenciada pelas notícias de quebra de safra. O preço deve seguir pressionado. A banana também subiu (2,66% ante 1,63%) pelo mesmo motivo”, explicou.

As altas impulsionaram o subgrupo in natura para uma inflação de 2,55% na terceira medição do mês (de 1,63%). A exceção ficou com os tubérculos, que tiveram deflação de 1,74% (de -2,39%), puxada pela queda da batata, de 3,69% (ante -6,09%), e dos ovos, que caíram 4,09%, depois de declínio de 3,76%, conforme a Fipe.

Já a alta dos alimentos semielaborados (de 2,38% para 2,21%) foi sustentada pelo encarecimento das carnes bovinas (3,57% ante 2,97%), suínas (4,70% ante 1,75%) e de frango (4,17% ante 6,13%), comentou Chagas. “É um aumento generalizado. Já leite (-0,47% ante +1,14%) e ovos aparecem para suavizar um pouco o aumento das carnes”, afirmou.

O único subgrupo a apresentar uma inflação menos pressionada foi o de industrializados (de 0,16% para 0,05%) na terceira quadrissemana de outubro, influenciada pelos derivados do leite (-0,27%), com destaque para os recuos de 2,22% do queijo fresco (ante 0,53%) e de 2,56% de leite aromatizado (ante -0,10%). Já os derivados da carne avançaram 1,52%. Chagas citou como exemplo as taxas positivas de 2,87% ante 1,74% (linguiça) e de 4,59% ante 3,90% (salame).

Juntamente com a variação de 0,95% apurada em alimentação fora do domicílio, o grupo Alimentação no âmbito do IPC-Fipe da terceira leitura do mês ficou em 1,08%, após 1,03%. Para o fechamento de outubro, a expectativa de Chagas é que essa classe de despesa tenha elevação de 1,11%, enquanto a projeção para o IPC segue inalterada em 0,42%. “Os alimentos in natura e semielaborados devem continuar pressionando, enquanto industrializados devem segurar um pouco a alta”, estimou.

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