Estiagem castiga lavouras de milho e trigo

A estiagem que já dura quase 70 dias em algumas regiões do Paraná está castigando as lavouras típicas dessa época do ano, como o milho ?safrinha? e o trigo. Conforme levantamento feito pela Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), a quebra de safra do trigo deve variar entre 16% e 17%, enquanto a do milho deve chegar a 20%. Esses índices, porém, podem aumentar caso a falta de chuva perdure pelos próximos dias ou, pior, se ocorrer geada.

?A região do norte pioneiro é a mais castigada. Na região de Cambará, Cornélio Procópio, Jacarezinho, a última chuva boa ocorreu entre os dias 15 e 17 de abril. De lá para cá, está tudo seco?, afirmou o engenheiro agrônomo e assessor técnico e econômico da Ocepar, Robson Maffioletti. Segundo ele, quem plantou o milho ?safrinha? em fevereiro terá uma safra praticamente normal. ?Quem fez o plantio até 10 de março está numa situação razoável?, comentou. O problema, apontou, é para quem plantou em março – mês que concentra a maior parte do plantio – ou abril. A previsão, de acordo com o assessor econômico, é que o Paraná colha cerca de 3 milhões de toneladas de milho nesta safra. Além disso, este ano a área cultivada com milho aumentou: passou de 700 mil hectares no ano passado para 980 mil este ano.

Com relação ao trigo, o grande problema é o desenvolvimento não uniforme. Em regiões como o norte e o norte pioneiro, o plantio já foi finalizado. Já em regiões como o centro-sul e o sudoeste, de acordo com Maffioletti, os produtores rurais estão aguardando a chuva para iniciar o plantio. ?No centro-sul e no sudoeste, os agricultores têm a possibilidade de plantar trigo até 20 de julho?, explicou. Também na região de Ponta Grossa, a espera é por chuva.

No Paraná, cerca de 40% do trigo é cultivado no norte, 25% no oeste, 20% no centro-sul e outros 15% no sudoeste. Já o cultivo de milho se concentra nas regiões oeste e noroeste (60%) e norte (40%). Devido ao clima frio, o milho ?safrinha? não é cultivado no sudoeste nem no centro-sul.

De acordo com Maffioletti, a estiagem nessa época do ano é a pior que ele já viu nos últimos seis anos. ?Todo ano tem estiagem nesse período, algum veranico, mas nada tão drástico como o de agora?, afirmou. Segundo ele, no norte do Paraná há produtores rurais, inclusive, que já se renderam à estiagem. ?Há muitos que desanimaram, que pararam de controlar pragas e lagartas porque acreditam que não vão recuperar mais a lavoura.?

Quebra maior

Sem apresentar levantamento preciso, a Cocamar, com sede em Maringá, acredita que a quebra de safra pode ser ainda maior do que o estimado pela Ocepar, devendo chegar a 30% no caso do milho ?safrinha? e a 40% no trigo. ?Essa semana choveu em algumas unidades, mas de maneira não uniforme. O volume de chuva também foi muito pequeno?, apontou o gerente técnico da Cocamar, José Roberto Gomes.

Segundo ele, a colheita do milho na região já começou. ?Por enquanto, a produtividade está razoável, mas as próximas colheitas devem vir com uma quebra bastante acentuada?, comentou, endossando a informação de que a lavoura plantada mais cedo será a menos prejudicada.

Segundo Gomes, o trigo está em situação pior. ?Depois do plantio do trigo, praticamente não choveu mais?, disse, acrescentando que na região de Maringá não há uma chuva uniforme há mais de 60 dias. Com a falta de chuva, as plantas não perfilharam e estão em tamanho menor do que o normal. A boa notícia é que grande parte do trigo ainda pode se recuperar, caso chova na região nos próximo dias. O potencial produtivo, porém, já está praticamente definido.

Previsão oficial

A próxima previsão oficial da safra, feita pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), através do Departamento de Economia Rural (Deral), deve ser divulgada na próxima semana. Na última estimativa, feita em maio, a previsão era de quebra de safra de 6% para o trigo e de 5% para o milho. O engenheiro agrônomo do Deral, Otmar Hubner, admite que esses índices devem subir. No ano passado, quando a estiagem se concentrou entre fevereiro e maio, o milho ?safrinha? teve perda de 35% no Paraná. 

Preço ainda não reflete a quebra

Apesar da seca, o preço tanto do milho como do trigo ainda não está refletindo as previsões de quebra de safra. Para o assessor técnico e econômico da Ocepar, Robson Maffioletti, a estiagem vai mexer com os preços mas vai levar algum tempo. ?Vai depender das condições de negociação?, observou o assessor.

No caso do milho, a cotação na sexta-feira era de R$ 12,80 a saca de 60 quilos – média do preço no Estado e abaixo do mínimo, que é R$ 14,00. Há dois meses, porém, afirmou Maffioletti, a saca custava R$ 10,00.

Já a cotação do trigo era de R$ 19,92 – também abaixo do mínimo de R$ 24,00. ?Este valor não cobre sequer o custo variável?, observou Maffioletti. Em junho do ano passado, a saca do milho era comercializada a R$ 15,95, em média, e a do trigo a R$ 20,23.

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