Valter Campanato / Abr |
Camardelli: necessário mais agilidade |
Brasília (ABr/AE) – As exportações brasileiras de carne bovina devem fechar o ano com vendas de US$ 2,770 bilhões, estima o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec), Antonio Camardelli. Caso as exportações brasileiras de carne bovina se confirmem neste patamar, o resultado de 2005 ficará até 8,3% abaixo dos US$ 3 bilhões que os exportadores previam antes do ressurgimento da febre aftosa. "O olho do furacão que vamos enfrentar vai ser em novembro. A partir daí, espero que o cenário comece a ser revertido", afirmou ontem o diretor-executivo da Abiec.
Em outubro já houve redução de US$ 68 milhões, mas os exportadores de carne bovina estimam que novembro registrará o maior impacto negativo da febre aftosa nas vendas do produto ao exterior. Segundo Camardelli, os negócios devem apresentar redução de cerca de US$ 100 milhões este mês, na comparação com outubro, quando foram embarcados US$ 154 milhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento.
A redução de US$ 230 milhões em relação à expectativa anterior para 2005 se deve ao surto de febre aftosa em rebanhos do Mato Grosso do Sul, no início de outubro, e que já determinou a suspensão de importações de carne brasileira por 49 países. Existe possibilidade da doença também no Paraná, embora os resultados iniciais descartem esse diagnóstico. Entretanto, ainda não saíram os resultados do laudo conclusivo.
Cadeia produtiva
Depois de uma reunião de cerca de duas horas no gabinete do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, da qual participaram outros representantes da cadeia produtiva da carne e autoridades sanitárias do governo, Camardelli disse que é necessário agilizar ainda mais as medidas adotadas no combate aos focos de aftosa, que somam 21 até agora. Na terça-feira, o Ministério da Agricultura confirmou mais dez focos no Mato Grosso do Sul. "Só assim poderemos dar maior visibilidade externa sobre a seriedade da política de controle sanitário, para o país começar a reverter o que chamou de ‘efeito dominó’", afirmou Camardelli.
Ele sugeriu que autoridades sanitárias de outros países venham ver "in loco as medidas técnicas compatíveis com a situação" adotadas pelo Brasil, para mostrar que a "febre aftosa se circunscreve a uma área pequena de um país continental". Camardelli avalia que alguns países são "mais cruentos e drásticos" a respeito da barreira sanitária e a usam, inclusive, como artifício comercial. Citou como exemplo o Chile, que provocou banimento total da carne brasileira sem sustentação técnica na Organização Mundial do Comércio (OMC) e na Organização Internacional de Episootias (OIE).
A reunião com o ministro Roberto Rodrigues contou ainda com a participação do diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo. A série de encontros desde o reaparecimento da doença visa aprofundar as discussões sobre as ações conjuntas do governo e do setor privado, no Brasil e no exterior, para intensificar o combate à aftosa e suspender o mais rapidamente possível os quase 50 embargos já levantados ao país.
Segundo os dois executivos, os resultados técnicos da análise de animais de quatro fazendas de municípios do Paraná deverão ser concluídos e divulgados em oito dias.
Preço do suíno caiu quase 30% com a suspeita de aftosa no PR
Lyrian Saiki
A suspeita de febre aftosa no Paraná não está trazendo prejuízos apenas aos produtores de gado leiteiro e de corte. Os suinocultores também estão apreensivos e já acumulam prejuízos desde que a suspeita da doença foi anunciada, no último dia 21. Desde então, o preço do quilo do porco vivo, que era de R$ 2,30, passou para R$ 1,60 a R$ 1,80 – queda de quase 30%.
"Estados importantes fecharam divisas. Além disso, como o Paraná exportava suínos vivos, o preço baixou bastante", afirmou o vice-presidente administrativo da Associação Paranaense dos Suinocultores (APS), Romeu Carlos Royer. Apesar de o porco ser suscetível à febre aftosa, até agora não foi identificado um único caso em suínos, nem mesmo no Mato Grosso do Sul, onde subiu para 21 o número de focos de aftosa em bovinos. "Esperamos que continue assim, que não venha a acontecer", disse Royer.
Segundo ele, a produção estimada para este ano é de 408 mil toneladas de carne suína no Paraná. Desse total, quase 19% são para exportação, informa o vice-presidente. Outros 40% vão para outros estados e 32% ficam no Paraná. A produção no Estado se concentra na região Oeste e, das áreas consideradas de risco sanitário, apenas Maringá tem criação de porcos. Ao todo, são cerca de 30 mil suinocultores no Estado. O Paraná é o terceiro maior produtor brasileiro de carne suína, atrás apenas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
A venda de animais vivos para o abate, assim como a comercialização de carne suína com osso – ambas proibidas, desde que a suspeita de aftosa foi anunciada – representam uma quantidade bastante significativa da produção, de acordo com Royer. "Cerca de 20% do que vendemos são animais vivos para abate", disse. "Agora é esperar os resultados dos exames", arrematou.
Indústria de vacinas contra aftosa preparada para atender demanda
O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), entidade que reúne os laboratórios veterinários que atuam no País, informa que os laboratórios fabricantes estão preparados para atender a demanda necessária na segunda etapa da campanha oficial de vacinação contra febre aftosa programada para o mês de novembro.
"Pode haver um problema de distribuição, dado o interesse dos pecuaristas em vacinar o gado logo no começo da campanha agora em novembro, mas não haverá problema de produção de vacina", disse ontem Jorge Caetano, diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura. De acordo com ele, o surto de febre aftosa no sul de Mato Grosso do Sul deve provocar uma corrida aos revendedores. Ele acredita que a programação de produção de vacinas dada pelo ministério será cumprida, mas a expectativa é de que a procura pelas doses seja distribuída ao longo de novembro.
Dados da Central de Selagem de Vacinas (CVS), órgão centralizador da distribuição de vacinas no País, localizada em Vinhedo (SP), indicam a comercialização de 273 milhões de doses entre janeiro e outubro. Em outubro, mais de 75 milhões de doses já foram disponibilizadas aos pecuaristas brasileiros. Para novembro, a demanda prevista pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é de 136,2 milhões de doses. No total, em 2005, cerca de 370 milhões de doses deverão ser consumidas em todo o País, volume 7% superior ao volume comercializado em 2004, de 348 milhões de doses.
Emilio Salani, presidente do Sindan, informa que a produção total de vacinas que em 2005 superará 400 milhões de doses passa por duplo controle de qualidade: dos próprios laboratórios e do Mapa, assegurando a qualidade do produto.
De acordo com a Central de Selagem de Vacinas, os estados que mais consumiram vacina contra febre aftosa em 2005, em milhões de doses, foram: Goiás (31,6), Minas Gerais (31,1), Mato Grosso (27,9), Mato Grosso do Sul (26,2), Rondônia (23,8), São Paulo (23,8), Pará (19,5), Paraná (18,6) e Bahia (17,8).