Estados Unidos animam o campo brasileiro

Às vésperas do plantio da safra de grãos, a alta do dólar e a seca, que castiga as lavouras nos Estados Unidos, mudaram o cenário de preços para a soja, que mais uma vez será a estrela do agronegócio. Em apenas 20 dias, a cotação do grão vendido no Porto de Paranaguá (PR) subiu 15% em reais, quase o triplo da desvalorização do câmbio em agosto. Isso deu uma injeção de ânimo nos produtores do Mato Grosso e do Paraná, os principais polos de produção.

“O que era uma safra de incertezas tornou-se uma safra com certa tranquilidade”, afirma o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso, Carlos Fávaro. Quase a metade da produção de soja do Mato Grosso de 2014, que começa a ser plantada em meados deste mês, já foi vendida antecipadamente.

A venda do grão antes do plantio é praxe no setor, mas neste ano estava devagar, diante da perspectiva de desvalorização das commodities em geral. “O movimento se acelerou nas últimas duas semanas por causa da combinação dos efeitos da alta do câmbio com os estragos da seca nas lavouras dos EUA”, diz Fávaro. O Mato Grosso deve plantar 8,3 milhões de hectares com soja na safra 2013/2014, com aumento de 4% a 5% em relação a ano anterior.

Apesar de não ter tempo hábil para comprar mais insumos nem área disponível, no caso do Paraná, para ampliar o cultivo, os produtores de soja não têm do que reclamar com o novo cenário de preços. Só no Mato Grosso, Estado afetado na última safra pela falta de infraestrutura de transporte e armazenagem, o ganho do produtor aumentou 50% nos últimos 30 dias, nas contas da MB Agro.

Ana Laura Menegatti, analista da consultoria, observa que a margem do produtor do Mato Grosso, que era de R$ 18,8 por saca de soja no fim de julho, subiu para R$ 28,1 no fim de agosto, levando em conta os custos, o preço para o produto na Bolsa de Chicago para março de 2014. “A margem para o produtor descontado o custo, que era 60%, subiu para 89%”, diz Ana.

Sorte. Na opinião de Fávaro, os produtores de soja foram beneficiados mais por “sorte” do que por “juízo”, fazendo referência aos problemas de infraestrutura que continuam sem solução e encarecem os custos, especialmente no Centro-Oeste.

Cerca de 40 produtores de soja da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá, no norte do Paraná, e 20 técnicos estão nos EUA checando as condições das lavouras do Estado de Illinois, que fica no cinturão de grãos. Segundo relatos de produtores americanos à comitiva brasileira, na região de Champaign faz seis semanas que não chove e o calor intenso deve provocar perdas na soja, que foi plantada muito tarde por causa de chuvas. Mas não é só a seca que preocupa. A chegada do frio em setembro no Hemisfério Norte pode trazer geadas e afetar a produção.

Por causa desse fatores, os produtores de soja dos EUA da região visitada esperam colher entre 90 a 110 sacas por alqueire, quando o normal é 160 sacas, informa a Cocamar.

O último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aponta que a safra de soja dos EUA, o maior produtor mundial, será de 89 milhões de toneladas.

Ana Laura, da MB Agro, diz que a consultoria trabalha há algum tempo com a estimativa de 88 milhões para a safra americana, mas já apareceu no mercado projeção de 82 milhões, que colocaria mais pressão nos preços.

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