A preocupação cada vez maior com a saúde e a ingestão de alimentos naturais está fazendo com que cada vez mais as pessoas resolvam aderir aos produtos orgânicos. Nas feiras e supermercados, já é possível encontrar uma variedade imensa de frutas e verduras cultivadas sem agrotóxico. Porém, o que nos últimos anos vem gerando muita curiosidade e interesse por parte dos consumidores é o mel orgânico ou agroecológico.
Segundo o presidente da Associação Orgânica do Paraná, José Antônio da Silva Marfil, o apicultor, para receber a certificação de que seu produto é orgânico, deve obedecer a algumas normas européias. A principal delas diz que o apiário deve estar em local isolado, isto é, a uma distância mínima de três quilômetros das áreas de agricultura convencional.
“As abelhas geralmente coletam o néctar em um raio de até três quilômetros de suas colônias. Se elas recolhem o produto de plantas cultivadas com a utilização de agrotóxicos, estão coletando junto resquícios de produtos químicos. Por conseqüência, os agrotóxicos também serão, posteriormente, encontrados no mel”, afirma.
Excluindo-se o fato de que para a produção do mel orgânico a florada onde a abelha trabalha deve estar em áreas nativas ou de agricultura orgânica, não há diferença entre um apiário normal e um agroecológico. Também não há como as pessoas identificarem, através do sabor, se o mel é ou não produzido de forma orgânica. O sabor varia de acordo com a florada e só uma análise química pode identificar a presença de agrotóxicos.
O valor de produção e comercialização do mel orgânico não é diferente do valor do tradicional. O que pode encarecer um pouco o produto é o tipo de embalagem. Para o orgânico, o mais indicado é que sejam utilizadas embalagens de vidro. Porém, muitos apicultores não obedecem à regra justamente para não inviabilizar a venda. “Sabe-se que alguns tipos de plásticos podem fazer transferência de resíduos para o produto. Por isso, na produção orgânica, se dá preferência ao vidro”, explica José Antônio.
Além do mercado interno, o mel orgânico produzido no Brasil vem conquistando espaço em mercados internacionais. As exportações estão crescendo bastante devido a problemas recentemente identificados no mel produzido na China, país que até pouco tempo era o maior produtor de mel orgânico do mundo. “Análises identificaram resquícios de produtos químicos em algumas amostras de mel produzidas na China. Em função disso, as vendas naquele país diminuíram e muitos dos compradores começaram a buscar o produto em outros locais.”
No Brasil, até 2002, haviam cerca de 300 mil apicultores, com produção anual de 30 a 40 mil toneladas de mel. “Grande parte deles se dedica à produção orgânica, mas ainda não possui a devida certificação de que seu mel é produzido sem agrotóxico”, comenta o apicultor Paulo Sérgio Zanqueta, que possui uma propriedade em Campina Grande do Sul, Região Metropolitana de Curitiba, que produz cerca de 1.500 quilos de mel por ano. Atualmente, o Brasil tem cerca de vinte entidades certificadoras. As diretrizes para conversão e certificação de apiários e produtos apícolas podem ser encontradas no site www.ibd.com.br.
Consumo
De acordo com dados apresentados no Congresso Brasileiro de Apicultura, realizado no ano passado em Campo Grande (MS), o consumo de mel ainda é considerado pequeno no País. Em média, é de 60 gramas ao ano por habitante. Na região Sul, o consumo é mais alto: varia de 200 a 300 gramas. Na Suíça, em média, cada habitante consome 1,5 quilo do produto por ano. Já na Alemanha e nos EUA, o consumo anual é, respectivamente, de 960 e 910 gramas por pessoa.