Em entrevista exclusiva a O Estado, o sócio sênior da Open Point Partners (OPPBrasil) – consultora de operações de fusões e aquisições, Adeodato Volpi Netto, analisa o atual estágio da economia paranaense. Nesta entrevista, feita em duas rodadas por e-mail, Adeodato, de Chicago (EUA), traçou um panorama sobre o grau de maturidade das empresas paranaenses. Com 17 anos de experiência entre Negócios Internacionais e Mercado Automotivo, Volpi é o primeiro brasileiro a conquistar a especialização Certified Merger and Acquisition Advisor (CM&AA)da Alliance of Merger and Acquisitions Advisors(AM&AA). Além disso, a OPPBrasil é a segunda no Brasil a contar com a chancela AM&AA, que é status de referência em informação sobre o Brasil.

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O Estado – Como você avalia o mercado de fusões e aquisições no Paraná e no Brasil?

Adeodato Volpi Netto – Ainda é um mercado imaturo, principalmente em se tratando de empresas puramente privadas, ou seja, sem nenhum tipo de ativo negociado em bolsa de valores. Mas isso não é um privilégio paranaense. A economia brasileira ainda engatinha neste mercado. Nosso ambiente regulatório ainda é fraco e a disponibilidade de capital no sistema financeiro para alavancagens de compra, venda e investimentos nestas áreas ainda são incipientes. Empunhamos a bandeira da estabilidade, mas nosso sistema financeiro ainda age baseado em uma cultura retrógrada e inflacionária.

OE – Por que as empresas adotam procedimentos de fusão ou aquisição?

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AV – Algumas das mais importantes podem ser dificuldade no processo sucessório em empresas familiares, necessidade de captação de recursos para crescimento e alta exposição dos donos ao risco financeiro como garantidores únicos (como pessoas físicas) da empresa. Os empresários poderiam estar mais engajados em ao menos analisar as possibilidades que estão ao alcance. A grande maioria não sabe quanto vale sua empresa.

OE – Dentro das empresas, quais os departamentos que mais sofrem com fusão ou aquisição?

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AV – Todos os departamentos sofrem algum tipo de impacto. No caso de uma fusão que é um processo que tende a gerar uma sobreposição de funções, normalmente as áreas administrativas acabam, eventualmente, sendo reduzidas ao tamanho que seja necessário para a gestão da nova empresa. Departamentos como marketing e comercial dependem muito mais das questões estratégicas, que variam muito caso a caso, do que meramente uma questão de análise de custos de uma estrutura operacional. No caso de aquisições eu diria que a equipe de gestão tende a sofrer maior influência dos novos proprietários.

OE – Quais são os principais setores no País – e no Paraná -que estão passando por um desses processos? Por quê?

AV – Os principais setores acompanham a tendência de crescimento do mercado como um todo. Infraestrutura, tecnologia, saúde e bens de consumo tendem a estar mais em evidência, o que absolutamente não invalida a possibilidade de outro segmento receber atenção especial.

OE – De que forma o mercado paranaense está se comportando dentro desse contexto? Que cenário se traça dentro de um futuro próximo com relação às empresas do Estado?

AV – O Paraná tem uma tradição muito forte de empresas familiares. Ainda há um certo comportamento autocrático ou oligárquico em um certo nível. Ainda há um peso muito grande na questão do status quo em detrimento de uma análise pura e simples do negócio como negócio. Alguns movimentos e exemplos importantes têm chamado atenção do empresariado paranaense e de uma forma quase irônica, as mesmas razões que podem tê-lo mantido relativamente “atrasado” neste aspecto, poderão acelerar o processo.

OE – Qual a possibilidade de se repetirem mudanças semelhantes a processos de venda como o Mercadorama, as Lojas Disapel, entre outras?

AV – Muito grande. O grau de desenvolvimento do estado do Paraná certamente consolida o e,stado e suas empresas como importantes atores no cenário econômico nacional. As duas situações mencionadas acima são um tanto diferentes em suas essências, mas certamente como fator ilustrativo de empresas de capital paranaense que tiveram seus controles mudando de mãos são exemplos válidos.

OE – Dá para dizer que o cenário empresarial do Estado vai sofrer alguma mudança profunda?

AV – Eu acredito que a sociedade paranaense como um todo está passando por um processo sério e definitivo de maturação. O antigo bairrismo já tem sido substituído por posturas muito mais abertas aos negócios que vêm de fora do estado, bem como as pessoas de fora do chamado establishment. Certamente um mercado e uma sociedade mais madura tende a ser mais bem sucedida em negócios sólidos e investimentos de longo prazo.

OE – Com a previsão de um crescente fluxo de investimentos externos no Brasil, como se vislumbra a internacionalização das empresas para os próximos anos?

AV – É um quadro irreversível. Por mais que existam teorias que contestem isso, quantos afirmaram categoricamente que a globalização era uma “onda passageira”? Hoje qualquer um de nós conecta-se à internet, compra um produto em qualquer lugar do mundo e este chega à nossa porta. Economias sólidas interagem constantemente e devem, inclusive, estar preparadas para processos cíclicos de posse de dinheiro. O capital circula para onde estão as melhores oportunidades e só se sustenta quem conhece, respeita e joga de acordo com as regras.

OE – Em linhas gerais, o que uma empresa deve fazer para se tornar atraente aos investidores internacionais?

AV – Costumamos dizer internamente que uma empresa deve estar preparada para ser vendida a qualquer momento. Isso certamente assusta muito empresário. Já vimos casos de empresários que não estavam preparados e perderam a chance de realizar um grande prêmio por sua trajetória em função de uma cultura centralizadora e um tanto amadora no que diz respeito aos controles e à criação de valor corporativo. Uma empresa que cria valor preocupa-se e age realmente comprometida com sua cadeia completa. Clientes – mercados – fornecedores – parceiros – funcionários – acionistas e sua comunidade.