Atualmente, no Brasil, conseguir um bom emprego é considerado um desafio. Principalmente para os jovens, entrar para o mercado de trabalho formal exige muito esforço e persistência. Alguns, mesmo enfrentando filas e andando quilômetros com o currículo debaixo do braço, acabam demorando muito mais do que alguns meses para conseguir o que desejam.
Uma pesquisa realizada recentemente pelo Grupo Votorantim indicou que os jovens entre 16 e 24 anos de idade representam 47% do total de desempregados no País: cerca de 7,6 milhões de pessoas, sendo 3,4 milhões de desocupados e 4,2 milhões de inativos. Em Curitiba e Região Metropolitana, segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), existem cerca de 3 milhões de habitantes. Em janeiro do ano passado, 7,8% deles estavam desempregados. Em setembro, eram 8,4%. A faixa etária das pessoas sem trabalho não é citada, mas também se acredita que boa parte seja jovem.
A constatação é considerada preocupante. “É mais do que alarmante, é gritante”, comenta o chefe do setor de fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho, Luiz Fernando Busnardo. “Isso indica que as empresas não estão dando chance àquelas pessoas que buscam o primeiro emprego. Para um jovem, conseguir emprego com carteira assinada está muito difícil, o que os acaba desanimando”.
Na opinião de Luiz Fernando, a dificuldade está justamente no fato de que, na hora de contratar, as empresas procuram pessoas com grande experiência. Os mais jovens, justamente devido a idade, geralmente possuem baixa qualificação profissional ou mesmo pouca escolaridade, não atendendo às exigências para admissão.
O fato se torna ainda mais alarmante diante da colocação, feita pela chefe do setor de identificação e registro profissional da delegacia, Regina Canto do Canto, de que a inatividade pode levar à marginalidade, fazendo com que os jovens comecem a usar drogar e mesmo entrem para o mundo do crime. “No Brasil, dois terços da população carcerária é jovem”, afirma. “O trabalho pode tirar moças e rapazes da situação de risco em que eles se encontram, dando-lhes maiores perspectivas de vida.”
Programas
Para combater o desemprego entre os jovens, o governo federal mantém, desde o ano passado, dois programas: Economia Solidária e Primeiro Emprego. Neste, mantido pelo Ministério do Trabalho, o objetivo é identificar e incentivar formas de trabalho e de acesso à renda aos jovens. O programa apóia o desenvolvimento do empreendedorismo.
Já no Primeiro Emprego, é dado um incentivo às empresas que, sem demitir empregados já experientes, dão chance aos jovens. Durante doze meses, empresas com faturamento anual de até R$ 1,2 milhão, recebem a cada bimestre uma ajuda de R$ 200,00 por jovem colocado. Já empresas com faturamento acima de R$ 1,2 milhão recebem, pelo mesmo período, ajuda de R$ 100,00 por jovem.
Empresas exigem experiência
Jovens que estão desempregados também apontam as dificuldades de entrar no mercado de trabalho formal, e criticam a postura da maioria das empresas em só contratar pessoas com experiência.
O auxiliar de produção Irineu Faustino da Rosa, de 19 anos, morador do município de Piraquara, busca emprego há um ano. “Vivo entrando em fila e entregando currículo. Já fiz algumas entrevistas, mas as empresas sempre contratam pessoas com mais experiência. Minha idade complica bastante as coisas”, diz.
Já Carmelino Diogo Filho, de 23 anos, morador do Bairro Alto, em Curitiba, fez no ano passado um curso de eletricista. Ele procura emprego na área, mas também está encontrando barreiras. “Fiz o curso, mas nunca trabalhei na área. Os empregadores percebem isso e não me contratam”, conta.
Tanto para Irineu, que estudou até o segundo ano do ensino médio, quanto para Carmelino, que tem incompleto o terceiro ano do ensino médio, o desemprego faz com que o sonho de cursar uma universidade e ter uma profissão um pouco melhor, inclusive com remuneração mais alta, seja adiado. “Sem trabalhar, a gente não tem como pagar um cursinho. Sem fazer cursinho, é muito difícil conseguir passar em um vestibular”, afirmam.
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