Era do dólar barato vai chegando ao fim

Com o crescente debate sobre quando o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, começará a retirar os bilhões de dólares que injeta diariamente na economia dos Estados Unidos, ganha força entre analistas e investidores a aposta de que a era do dólar barato no mundo está chegando ao fim.

Na semana que passou, o dólar subiu 0,54% em relação ao real, fechando a R$ 2,038, acumulando uma valorização de 1,9% nos últimos 30 dias. Com base na cotação mais baixa do dólar neste ano, quando atingiu R$ 1,942 no dia 8 de fevereiro, a moeda americana já acumula ganho de 4,94%. Mas não é somente em relação ao real que o dólar mostra sua força: na última semana, a moeda americana contabiliza alta de 3,07% sobre o iene e de 1,2% sobre o euro. Em relação às chamadas “moedas commodities”, ou seja, as divisas de países exportadores de matérias-primas, como soja e minério de ferro, o dólar teve ganho de 3% sobre o dólar australiano e de 2,95% sobre o dólar da Nova Zelândia.

“O cenário internacional recente tem favorecido a valorização do dólar ante as principais moedas de países avançados e emergentes”, diz o economista-chefe do banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall. “Pesa sobre esse comportamento o maior crescimento relativo dos Estados Unidos entre os países do G-7 e a perspectiva de retirada de estímulo monetário nos EUA, com a taxa de desemprego (7,5%) aproximando-se do patamar definido pelo Fed, de 6,5%, em que o banco central americano consideraria elevar a taxa de juros.”

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê expansão de 1,9% da economia americana neste ano, mas vários economistas começaram a revisar para cima suas estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, apesar do impacto recente dos cortes automáticos de gastos públicos.

De qualquer forma, a crescente expectativa entre investidores de que, com a recuperação da economia americana, o Fed começará a reduzir, por exemplo, o programa de compra de ativos de US$ 85 bilhões ao mês, provocou uma alta nos juros de mercado, o que, por sua vez, já tornou as aplicações em dólar mais atraentes do que em outras moedas.

Os juros pagos pelos títulos do Tesouro americano com vencimento em 10 anos subiram 11% no acumulado deste ano. Esse papel fechou 2012 pagando uma taxa de 1,759%. Na sexta-feira, 17, a taxa fechou em 1,952%. E, se o Fed vier, de fato, a retirar os estímulos monetários, há quem espere que os juros do papel de 10 anos possam bater 2,75% ou mesmo 3% no fim deste ano.

Valorização

“O movimento do dólar tem sido relevante, mas outros fatores têm agitado o mercado global de moedas, notadamente, a agressividade da expansão monetária no Japão, embora esse último fator tenha, por enquanto, um efeito mais restrito aos mercados asiáticos”, diz o economista-chefe do banco J.P. Morgan no Brasil, Fábio Akira. Na sexta-feira, os estrategistas do J.P. Morgan revisaram suas projeções para a cotação do dólar no final deste ano, prevendo uma moeda americana mais valorizada em relação ao real, ao euro, à libra esterlina e ao dólar australiano.

Akira cita outro fator que vem enfraquecendo as moedas de países exportadores de matérias-primas: “A volatilidade dos preços das commodities e as incertezas quanto ao crescimento da China têm tido um impacto relevante nas moedas emergentes, com um peso muito maior em países com alta participação chinesa em suas exportações, como o Brasil”.

Para vários analistas, o ciclo de alta nos preços de commodities ficou definitivamente para trás, especialmente porque se consolida a visão de que a economia da China terá uma desaceleração do ritmo de crescimento para abaixo até do patamar de 7,5%, que é a meta do governo chinês.

Depois de ter atingido cotações recordes em 2008, os preços de matérias-primas despencaram com a retração da economia mundial provocada pela crise financeira deflagrada naquele ano. O índice Dow Jones-UBS de commodities, por exemplo, atingiu o menor nível no pós-crise em 2 de março de 2009, negociado a 101,99.

Com a lenta recuperação alimentada pelos programas de estímulo monetário e fiscal, especialmente nos países desenvolvidos, a demanda mundial por combustíveis, minérios, metais e grãos foi sendo restabelecida e, com ela, a reboque, os preços dessas commodities.

O índice Dow Jones-UBS atingiu um novo pico de valorização em 29 de abril de 2011, quando foi negociado a 175,42, ou alta de 72% sobre o nível mais baixo desde o início da crise financeira de 2008. Mas, desde abril de 2011, os preços das commodities devolveram em boa medida os seus ganhos, com o índice recuando 25,3% até o fechamento de quinta-feira, 16, a 130,90.

Para Sebastien Galy, estrategista sênior de câmbio do banco francês Société Générale, no médio prazo, os fundamentos apontam para um dólar mais caro. “Os investidores estão, neste momento, reconsiderando o valor do dólar ante as outras moedas, tanto do ponto de vista cíclico – com a eventual retirada dos estímulos monetários pelo Fed com base numa perspectiva de melhora da economia americana – quanto estrutural, pois os Estados Unidos já não são mais grandes importadores de combustíveis”, diz Galy. “O fato é que o mundo com dólar barato está morrendo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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