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Episódio é um sinal de alerta para Brasil fazer reformas, diz Zeina Latif

A fragilidade do Brasil, que não resolveu o problema do déficit fiscal e vive situação instável por causa de indefinição eleitoral, possibilitou maior contágio da crise cambial da Turquia. Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, “se o País tivesse uma situação econômica melhor, a contaminação seria menor”. A seguir, trechos da entrevista.

Como a sra. viu o impacto da crise turca no Brasil?

O impacto no Brasil é natural, mesmo que a situação de cada país seja diferente, pois estamos na mesma categoria de investimentos dos demais emergentes. Mas é claro que se o País tivesse em situação econômica melhor a contaminação seria menor. Por exemplo, se a reforma da Previdência tivesse sido aprovada, provavelmente não iríamos sofrer tanto pois o mercado saberia que a questão fiscal já estava encaminhada.

Mas o que ocorreu também não é reflexo do cenário internacional mais fragilizado?

Não acho que o cenário internacional seja ruim, acho que é bom. Só que está muito mais ruidoso em função das ações do presidente americano, Donald Trump, de alguma desaceleração da economia chinesa e de outras questões em diferentes países. Mesmo assim, não é um cenário ruim. O mundo está crescendo e o comércio mundial está devagar mas seguindo em frente. De qualquer forma, esse episódio é um grande alerta para a necessidade de o Brasil acertar a vida aqui dentro pois, do contrário, vai continuar muito vulnerável.

Como reduzir a vulnerabilidade?

Nossas reformas são urgentes. E a prioridade é a da Previdência, que tem de sair rápido. O primeiro ano do novo governo é a hora de aprovar. Perder esse ‘timing’ – por não ter experiência ou capacidade política – vai nos custar muito caro.

O cenário político indefinido ajudou nessa contaminação?

Claro. Imagina se não tivéssemos eleição e tivéssemos pela frente a expectativa de o presidente Michel Temer aprovar uma reforma. O mercado daria um benefício de dúvida ao País e o impacto desse cenário atual teria sido diferente. A eleição se torna relevante porque sabemos que essa precisa ser a agenda política do próximo presidente. Ainda que nenhum candidato competitivo negue a necessidade da reforma, não temos clareza se as propostas que vão vir de reforma são adequadas, viáveis, corretas tecnicamente. E, mais importante, não sabemos se o próximo presidente terá habilidade política para promover a reforma, porque não basta colocar um ministro da Fazenda bacana – o Joaquim Levy caiu. Ou sabe negociar com o Congresso, ou sabe dialogar com os poderes ou não vai ter uma boa reforma. Pode até ter, mas uma reforma fraca, tímida.

O que deve ocorre até a eleição?

Esse tipo de coisa é o imponderável. Não acho que o cenário internacional seja ruim, mas é um cenário morno, o que significa mais vulnerável. E no Brasil não sabemos ainda nem quem vai para o segundo turno para podermos avaliar.

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