Como o investimento é o item mais fácil de se cortar, a área de infraestrutura é a primeira a ser atingida por contingenciamentos. Um exemplo mais recente de como esses cortes podem ser profundos está na situação da Empresa de Planejamento Energético (EPE). Ela é responsável por determinar a expansão do parque elétrico, definindo onde, como e quando serão construídas usinas e linhas de transmissão, por exemplo. Em sua página na internet, a EPE está pedindo doação de equipamentos.
Em nota à reportagem, declarou que falta dinheiro. Solicitou R$ 33,95 milhões para cobrir despesas de 2017. Recebeu R$ 17,9 milhões. Porém, feito o corte, o valor caiu para R$ 9,6 milhões. Recorreu ao Ministério das Minas e Energia e conseguiu elevar o montante para R$ 14,6 milhões.
Segundo a nota, a EPE vem sofrendo historicamente com contingenciamentos. Já cortou gastos com energia, internet, limpeza, recepção, vigilância. Tem postergado a contratação de serviços de consultoria, de renovações de licenças e aquisição de softwares, importantes para o trabalho da empresa.
Como o estatuto da EPE permite doações, a direção recorreu a essa alternativa para tentar atualizar os computadores, que têm idade média de seis anos – são defasados para o nível de sofisticação exigido pela função da EPE.
Empresários e executivos do setor de energia, procurados pelo Estado, declararam que avaliam fazer contribuições, mas consideraram “surreal” a situação da empresa e o pedido. Preocupa, principalmente, se as doações poderão interferir nos critérios dos projetos, de forma a beneficiar quem doe mais.
No texto enviado ao Estado, a EPE disse que as doações buscam aumentar a eficiência da empresa e que os critérios do processo eliminam possíveis conflitos de interesse. Na avaliação da EPE, “o comprometimento dos trabalhos ocorrerá se não houver modernização da infraestrutura tecnológica, e não pelas relações com o mercado.”