A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revisaram para baixo as projeções de carga de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN) para este ano e os próximos e passaram a prever um crescimento médio anual de 3% entre os anos de 2016 e 2020, abaixo dos 3,7% estimados anteriormente. Agora, a previsão é de que este ano apresente estabilidade da carga e não mais crescimento de 1%, como esperado anteriormente. Para o planejamento anual da operação energética 2017 (2017-2021), a taxa média de expansão ficou em 3,3%. Os dados foram apresentados durante Workshop sobre Previsão e Acompanhamento da Carga do SIN, realizado nesta quarta-feira, 7, no Rio de Janeiro.
A revisão para baixo leva em conta que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cairá 3,5% em 2016, e não mais 3%, como considerado na revisão das projeções publicada em agosto. As estimativas de crescimento do PIB para 2017 até 2020 também foram reduzidas, levando a taxa média de expansão entre 2016 e 2020 a ficar em 1,8%. Além disso, para 2021, incorporou-se uma previsão de alta de 2,8%, levando a taxa média 2016-2021 a 2%.
A EPE lembrou que a expectativa de retomada da atividade econômica ao longo do segundo semestre deste ano foi frustrada e que o carregamento estatístico afetará o PIB de 2017. “A instabilidade política continua impactando as expectativas e a retomada de investimentos”, destacou a instituição em apresentação disponibilizada no site do ONS. A EPE também considerou a expectativa de continuidade de deterioração do mercado de trabalho. “Piores condições do mercado de trabalho no curto prazo prejudicam a retomada l de confiança dos consumidores, impedindo uma recuperação mais rápida do comércio e dos setores da indústria voltados ao mercado interno.”
Em termos nominais, a nova previsão considera uma carga de energia (que contabiliza o consumo efetivamente de energia elétrica e as perdas e outras diferenças) de 64.636 MW médios em 2016, cerca de 2 mil MW médios abaixo do previsto anteriormente. Para 2020, a carga estimada é 4,236 mil MW médios menor, ou 72,766 MW médios.
Todos os submercados tiveram suas projeções de carga revistas para baixo no horizonte 2016-2020. A maior redução foi na região Norte, que teve a taxa reduzida de 5,5% ao ano para 3,3%, Já o Nordeste teve queda de 0,3 ponto porcentual (p.p.), para 3,6%; a previsão para o Sul baixou 0,4 p.p., para 3%, e o Sudeste/Centro-Oeste recuou 0,6 p.p., para 3,8%.
O submercado Sudeste/CO, que concentra a maior parte da carga do País, teve revisão mais significativa este ano. Agora a estimativa contempla uma queda de 0,8%, ante leve alta de 0,2% estimada anteriormente. O Sul também mostrou forte redução da previsão da carga para este ano, para 0,2%, ante os 3,2% estimados anteriormente. Para o Nordeste, por sua vez, houve uma melhora da projeção, que dobrou para 1,6%.
Compatibilização de dados
Além de apresentar as novas projeções, o workshop teve como objetivo mostrar uma análise detalhada das medições de geração das usinas instaladas no País pelos órgãos que contabilizam esses valores – ONS e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) -, de maneira a identificar o motivo de cada instituição divulgar um número diferente, e consolidar uma nota técnica sobre o assunto. A diferença entre os valores apurados pelo ONS e pela CCEE ficou da ordem de 3% (2,05 mil MW médios) no ano de 2015, mesmo patamar observado no acumulado de janeiro a setembro deste ano (3% ou 1,724 MW médios).
A nota técnica, disponível no site da CCEE, recomenda a revisão do histórico de carga verificada pelo ONS. O ajuste significará uma redução de 1.349 MW médios em 2015 e de 1.319 MW médios em 2016 (até setembro). Conforme explica o documento, a revisão deve-se às “inconsistências encontradas nas informações prestadas pelos agentes ao ONS, à utilização de valores programados, à duplicidade devido a representação de conjuntos de usinas e de usinas individualizadas, a inconsistências pontuais e à maior precisão nos valores da medição da CCEE”. Ainda assim, a nota alerta que os valores de carga do ONS e de geração da CCEE são diferentes devido às funções de cada instituição.
Para minimizar a ocorrência de erros a nota propõe o estabelecimento de uma sistemática em que serão consideradas de forma articulada as medições de supervisão do ONS, as medições da CCEE e os dados encaminhados pelos agentes de distribuição. Além disso, será proposta a criação de uma “Coordenação Executiva de Acompanhamento de Dados Verificados de Geração para Composição da Carga Global, que obtenha os dados verificados de geração e troque informações de usinas que acessam a rede básica e sistemas de distribuição.
No mais, a nota técnica também defende a participação da CCEE e sua contribuição no processo de previsão de carga para o planejamento energético para o período de 5 anos, tendo em vista que essa previsão afeta o cálculo do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), comandado pela câmara de comercialização. “A elaboração conjunta das previsões de carga para o Planejamento Anual da Operação Energética pelas três Instituições – ONS, CCEE e EPE – contribuirá para o enriquecimento dos estudos e análises das projeções de carga e preço”, diz o texto.