A enxurrada de números e dados sobre a boa oferta de empregos no País – e que se repete nas amostragens de Curitiba e Região Metropolitana, com a taxa de desemprego em 4% -, nem sempre é compreendida por quem está saindo da faculdade ou já possui alguns anos de procura com o diploma nas mãos. Aliás, nas empresas de gestão de pessoas que aproximam os profissionais das vagas disponíveis, em média, para cada dez postos de trabalho que são abertos, apenas dois exigem nível superior completo como critério eliminatório.
Segundo o levantamento encomendado pela Tribuna ao Observatório do Trabalho da Secretaria Municipal do Trabalho (SMT), em Curitiba, até mesmo para quem conseguiu um mestrado ou doutorado as portas do setor produtivo ainda parecem tímidas, já que 80% dos mestres e doutores da capital acabam trabalhando nas universidade públicas, sobretudo por não encontrarem vagas ou ambiente favorável nas organizações. “É exatamente o inverso do que encontramos em países como Japão, Espanha e Estados Unidos onde 80% dos mestres e doutores estão no chão de fábrica, contribuindo para a inovação da indústria”, compara o secretário municipal do Trabalho, Paulo Bracarense. “As empresas se acostumaram a não correr risco, o que é contraditório no capitalismo e liquida o investimento em pesquisa”, critica.
Ele diz que o desenvolvimento de tecnologia na indústria local só será uma realidade quando os empresários mudarem a cultura da empresa e compreenderem que a pesquisa é um investimento cujo resultado tem um tempo diferente para ser analisado. “O retorno financeiro da pesquisa não é imediato como o investimento em uma nova máquina, mas é o que agrega valor e dá sustentabilidade e competitividade ao negócio”, orienta.
Isso explica a razão pela qual do total de trabalhadores registrados em Curitiba, menos de 27% (227,4 mil) são profissionais com graduação, mestrado ou doutorado. A maioria (42%) dos profissionais em atividade e com carteira de trabalho assinada possui o ensino médio completo. Na comparação com o quadro nacional, Curitiba ainda apresenta um nível de empregabilidade bem melhor para quem possui curso superior completo. Só que menos de 20% dos trabalhadores registrados possuem esse grau de formação, de acordo com o cruzamento das informações contidas no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
“Mas mesmo em Curitiba a diferença de ganhos entre homens e mulheres qualificados segue gritante. Enquanto o salário de admissão delas é na faixa de R$ 1.936, o deles cresce para R$ 3.171”, compara o secretário. A diferença de gênero e raça no trabalho é o foco da Agenda do Trabalho Decente em Curitiba.
