A decisão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) de comunicar oficialmente desde a semana projeções mensais para os custos marginais de operação (CMO) foi bem recebida por entidades do setor elétrico. O mesmo material, por outro lado, confirma as expectativas de que o preço da energia no curto prazo continuará elevado, o que gera preocupações ao equilíbrio setorial.
“A medida é um reconhecimento à importância do diálogo com as associações e também nos dá maior previsibilidade, além de nos permitir uma avaliação permanente daquilo que está sendo apresentado”, destaca o presidente executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa.
Na semana passada, o ONS enviou carta para entidades do setor com projeções para o cálculo do CMO entre junho deste ano e maio de 2015. O material sinaliza que o CMO, indicador utilizado como referência para a definição do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), deve ficar acima de R$ 600 por megawatt-hora (MWh) entre julho e novembro, com pico de R$ 791,41/MWh em outubro, conforme noticiado mais cedo pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Tais números causam preocupação. “O PLD em qualquer patamar acima de R$ 250/MWh traz problemas para o setor. Ainda que não haja racionamento, estamos em uma situação de risco financeiro alto e a questão operacional também não é boa”, alerta a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Melo. Embora igualmente entusiasta da maior transparência propiciada pela carta enviada pelo ONS às entidades do setor, a executiva destaca a necessidade de operação permanente das térmicas.
Como consequência desses riscos, a percepção é de que o PLD permanecerá em patamares elevados durante o segundo semestre, uma situação que afetará empresas do setor elétrico e também os consumidores. “A energia é 30% a 40% do custo de produção (dos grandes consumidores industriais) e a carta confirma as preocupações que temos a partir de nossos estudos”, afirma Pedrosa em entrevista ao Broadcast. “A indústria brasileira está sob ameaça e as projeções do ONS reforçam nossa preocupação de perda de competitividade e desincentivo ao investimento por parte da indústria”, complementa.
Elbia relembra que representantes do governo já sinalizavam que, para evitar um racionamento, a decisão escolhida seria a operação plena das térmicas. Ainda assim, o nível dos reservatórios no subsistema Sudeste/Centro-Oeste poder chegar a 15% da capacidade no final do período seco, em outubro.
INDÚSTRIAS
Com os preços elevados, os grandes consumidores, basicamente indústrias eletrointensivas, podem adotar duas posturas. No longo prazo, poderiam apostar em projetos de autoprodução, na visão da representante da ABEEólica. No curto prazo, os preços elevados de energia podem estimular a redução do ritmo de produção e consequente repasse de excedente de energia a ser liquidado no PLD.
Essa possibilidade, segundo Pedrosa, acontece não em decorrência de uma oportunidade de lucro momentâneo no mercado energético, mas sim em função das dificuldades enfrentadas por alguns setores industriais. “Falamos de empresas cuja condição de competitividade está abalada e que deixaram de produzir conforme sinalizavam anteriormente. Muitas delas continuavam produzindo seguindo sinalização do governo de que medidas atenderiam as grandes indústrias”, relembra.
Medidas como a redução do custo da energia aplicada em 2013 tiveram efeito positivo em um primeiro momento, mas já foram praticamente anuladas com a atual trajetória de alta dos preços. Em 2015, a situação hidrológica adversa apurada em 2014 voltará a impulsionar o custo da energia para os consumidores.
Em meio aos preços mais elevados previstos para o CMO, ao menos a postura do ONS foi elogiada pelas entidades. Para Elbia, a divulgação mensal das projeções por parte do ONS está alinhada com os pedidos feitos pelo Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase). “É uma forma de trazer maior transparência ao setor”, sintetiza.