A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de aumentar os juros básicos da economia (Selic) de 12,25% para 12,75% foi criticada por entidades ligadas ao setor produtivo.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, a elevação da Selic “é mais um ingrediente a alimentar a ameaça de recessão no Brasil”. “Sem demora, precisamos de uma política de juros e de uma carga tributária compatíveis com as vigentes nos países com os quais competimos”, afirmou, em nota.
Roriz Coelho diz que o aumento do juros não pode ser o único instrumento de combate à inflação e que o governo precisa reduzir gastos e adotar medidas que recuperem a credibilidade do país perante os investidores.
O presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Levi Ceregato, disse que a decisão do Copom amplia o cenário de deterioração da economia. “A nova alta de juros é apenas outra alegoria assustadora do mais sinistro ambiente de negócios da história recente do País. A economia está em queda livre e o setor produtivo ainda não vislumbra o fundo do poço”, afirmou.
Ceregato disse que o setor industrial trabalhava com projeção de retração de 0,5% no PIB e de 0,35% na produção industrial e que as expectativas pioraram. “Já era ruim e piorou: a expectativa já é de crescimento negativo de 0,58% no PIB e de 0,72% na indústria”, diz.
Na avaliação de José do Egito Frota Lopes Filho, presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos (ABAD), o efeito da nova elevação da taxa Selic é “a continuidade de um processo que segue penalizando de forma inclemente o cidadão e o setor produtivo”. Segundo ele, a visão do Banco Central de que o aperto é indispensável ao equilíbrio da economia vai reduzir o consumo e os investimentos. “Isso gera consequências nefastas para o emprego e para o crescimento”, completa.
Anefac
A decisão do Copom terá um efeito muito pequeno nas operações de crédito. A avaliação é da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Segundo a entidade, esse pequeno impacto é explicado pelo fato de existir “um deslocamento muito grande entre a taxa Selic e as taxas de juros cobradas aos consumidores”. A Anefac destaca que, na média, as taxas de juros cobradas de pessoas físicas atingem 110,36% ao ano, “provocando uma variação de mais de 800,00% entre as duas pontas”.
De acordo com simulação da Anefac, com a Selic passando de 12,25% para 12,75% ao ano, a taxa média de juros para pessoa física deve ter uma alta de 0,63% na análise mensal, passando de 6,39% para 6,43% ao mês; e de 0,86% no levantamento anual, passando de 110,36% para 111,32%.
Já o juro médio do cartão de crédito, por exemplo, deve passar de 11,22% ao mês, ou 258,26% ao ano, para 11,26% ao mês e 259,81% ao ano.