O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fez nesta terça-feira, 29, discurso bastante enfático sobre a necessidade de o governo, com o apoio da sociedade, promover o ajuste fiscal, durante participação na cerimônia de premiação do ranking Empresas Mais, elaborado pelo jornal o Estado de S. Paulo. Para o ministro, o desequilíbrio fiscal é a fonte de todas as incertezas. “Enquanto não acertarmos o fiscal, será muito difícil os juros caírem”, disse.
Ainda de acordo com Levy, a queda da inflação também está associada ao ajuste fiscal. “Para a inflação cair, com queda dos juros curtos e longos, o fiscal precisa ser acertado”, afirmou o ministro da Fazenda.
Para ele, é preciso, antes de tudo, acertar a situação fiscal, pois isso é a maior fonte de incerteza para todo mundo. Segundo Levy, para o Brasil sair da crise é preciso uma linha clara de ação e o governo está tentando transmitir isso.
“Como eu tenho dito, é a estratégia 1, 2 e 3. Primeiro a gente acerta o fiscal, que é a maior fonte de incerteza pra todo mundo, porque as pessoas não sabem como vão ser os impostos em um, dois, dez anos. Tem de cortar onde tem de cortar, mas olhando com realismo e sabendo as mudanças profundas que certas economias vão requer, senão é apenas espuma. E o Brasil não vai aceitar espuma”, comentou Levy. Os outros dois passos da estratégia são o retorno de um crescimento saudável do crédito e depois a promoção de reformas estruturais.
Crises anteriores
O ministro lembrou da crise brasileira na década de 1980, com choques externos e incertezas políticas, que teve um custo muito alto. “O objetivo atual é evitar o longo processo que teve naquela época. A gente sabe como foi um caminho difícil, o que foi até chegar ao default. Não tem motivo para achar que esse é o caminho agora, depois de tudo que já se fez.”
Segundo ele, nas crises anteriores, o Brasil não tinha o arcabouço institucional que existe hoje, inclusive na área fiscal, e também não havia a maturidade política atual. “O maior risco é a procura de soluções fáceis, mudando uma peça aqui e acolá e achando que vai resolver tudo.”
O ministro da Fazenda lembrou que, quando um país passa por uma rápida desaceleração econômica, para acertar o fiscal “tem de pensar em receitas”. “Outros países também recorreram a isso, pois as reformas e a diminuição de gasto demoram mais para acontecer e precisamos ter uma ponte segura para chegar ao outro lado.”
Turbulência
Levy comentou a turbulência nos mercados financeiros nos últimos dias, em função das dúvidas sobre se o governo conseguirá obter as receitas necessárias, para mostrar a importância de ter uma política fiscal clara.
Ele explicou que além de medidas de curto prazo também é preciso pensar em reformas estruturais e o governo não está se furtando a isso. “Temos de estar preparados, e o governo tem procurado se preparar, talvez com erros, acertos, mas é muito claro que estamos nos preparando.”
Levy lembrou ainda que o Brasil passou por um choque importante nos termos de troca e que pode enfrentar turbulências com a normalização da política monetária dos EUA.
Investimentos
Para o ministro da Fazenda, o ajuste fiscal trará de volta a confiança dos empresários e na esteira da volta da confiança, a retomada dos investimentos. “E com a volta dos investimentos os juros vão cair lá na frente”, ressaltou.
Segundo Levy, o problema do Brasil não é a demanda, mas sim a oferta, mas com a volta dos investimentos, após o fiscal ser acertado, “veremos a volta da demanda e a política monetária podendo ser relaxada”. “Temos que ser muito realistas com a relação fiscal e convencer a sociedade”, disse o ministro, reiterando que depois de acertar o fiscal será vista a volta da confiança.
Previdência
O ministro afirmou que é preciso garantir a previsibilidade da Previdência no longo prazo. Segundo ele, o governo já está fazendo isso, com a criação de um fórum de trabalho para discutir mudanças estruturais. “O governo está criando consenso, porque é um tema pesado, grande”, comentou durante a premiação do ranking elaborado pelo jornal o Estado de S. Paulo.
Para Levy, é indispensável estabelecer uma idade mínima de aposentadoria, para todos os regimes de Previdência. “Nós temos de fazer uma reforma que dure 20, 30 anos e aumente oferta de trabalho, até porque nosso bônus demográfico está acabando. É muito difícil crescer quando a força de trabalho diminui. A reforma da Previdência não tira direito de ninguém, ela aumenta crescimento, cria empregos.”
Segundo ele, o governo está fazendo um esforço muito grande para garantir a manutenção dos vetos presidenciais no Congresso, inclusive com a aprovação de um projeto que alteraria um dos aspectos da política 85/95, que soma a idade com o tempo de contribuição.