No campo energético, as diferentes matrizes disponíveis no Estado demonstram que há meios de se atender uma provável expansão da demanda do setor industrial que, só com o crescimento econômico registrado em 2010, aumentou 5,8%. Tal direcionamento já foi mencionado durante a posse do novo diretor da Companhia Paranaense de Energia (Copel), Lindolfo Zimmer, que assumiu o compromisso de excelência nos serviços da empresa, ao mesmo tempo em que destacou a intenção de investir em mercados promissores, sobretudo, o de energia eólica. Energia essa que aqui apresenta potencial de ventos capaz de atender 40% do consumo atual de eletricidade. Conforme medições divulgadas pela própria Copel, a produção de energia eólica pode chegar a 3.375 megawatts. Isso equivale a algo próximo ao que é produzido por cinco grupos geradores de Itaipu.
Vento para isso tem. E a afirmação não é retórica. Na região Sul, o Paraná foi pioneiro nesse segmento ao investir na instalação da primeira usina eólica. Foi no município de Palmas, Sul do Estado, em 1999, com potência de 2,5 megawatts. A usina foi resultado de um trabalho minucioso – o Projeto Ventar – iniciado pela Copel em 1994. O estudo também deu origem ao primeiro Mapa do Potencial Eólico do Paraná, que utilizou 25 torres, com alturas de 18 a 20 metros, para medir os ventos a partir de um software dotado de recursos de geoprocessamento (GIS). A conclusão foi que, mesmo tendo um relevo bastante “enrugado”, o Estado possui 25 locais para a exploração do vento. Municípios do Sul, Centro-Sul e Centro, como Palmas, Guarapuava e Tibagi foram apontados como os lugares mais favoráveis ao desenvolvimento de parques eólicos, mas também foram consideradas viáveis áreas em Londrina, Maringá, Cascavel e na Serra do Mar.
Incentivos
De lá para cá, o mapa não recebeu a atenção necessária, a ponto de mesclar nas atualizações mais recentes, dados de 2006 a 2009. “Até o momento, as coisas não estão acontecendo no Paraná. E esse descaso com o setor fez o Rio Grande do Sul despontar nesse intervalo e virar a grande referência na região Sul de energia eólica”, avalia a advogada especialista em energia eólica, Marilia Pioli. Segundo ela, isso não significa que o crescente mercado de energia eólica no País não conte com investidores paranaenses.
Há muitos grupos empresariais daqui investindo e, por enquanto, o Nordeste está atraindo a maior parte dos recursos, seja pelo potencial de ventos, que é o maior de todo o País, seja pelos incentivos tributários bastante interessantes que estão sendo oferecidos por estados como Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. “Esses estados já estão percebendo o quanto os parques eólicos são agentes de promoção do desenvolvimento. Junto ao parque vem a indústria eólica que desenvolve torres, pás e uma série de outros equipamentos necessários à cadeia produtiva”, destaca a especialista.
Ela conta que no polo industrial de Pecém, no Ceará, instalaram-se as alemãs Fuhrländer e Wobben Windpower e, recentemente, a paulista Aeris Energy anunciou a instalação de uma fábrica de pás eólicas no complexo, um investimento orçado em R$ 50 milhões. Já na região do complexo portuário de Suape, em Pernambuco, estão a Gestamp Wind Steel Pernambuco S/A (atual denominação da RM Eólica), a Impsa e a Wind & P Brasil. “No Paraná, até agora, os investidores só contam com o apoio do governo federal, via Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), que desenvolveu um convênio de incentivos fiscais para o setor”, observa.
Apoio do governo estadual pode consolidar nova energia
O apoio do gove,rno estadual também é muito importante na consolidação da energia eólica, principalmente em relação à tributação de ICMS, que impacta ainda mais no alto custo de instalação das usinas e indústrias que desenvolvem equipamentos para o setor. A falta de estímulo no Paraná, ficou evidente nos últimos dois leilões de energia realizados em 2010 – Leilão de Reserva e Leilão de Fontes Alternativas – no qual a energia eólica foi disparadamente a mais vendida. Dos 89 projetos de todo o País, 70 foram de centrais eólicas. Apesar disso, o Paraná vendeu 19 megawatts de energia originária integralmente de Pequena Central Hidrelétrica (PCH). O projeto foi a Usina Cavernoso II, no município de Virmond, onde deverão ser investidos de R$ 80 milhões a 90 milhões, com previsão de início de operação em meados deste ano. “Mesmo com alguns estudos que questionam o impacto ambiental das usinas eólicas como eventuais alterações na rota migratória de alguns pássaros, o impacto é infinitamente menor do que a inundação de uma área como é premissa da instalação de hidrelétricas”, afirma a advogada.
Custo
Na comparação com as hidrelétricas, o valor da energia eólica ainda é pouco competitivo, já que está longe do preço de R$ 70 megawatts/hora praticados pelo setor hídrico. Mas esse tipo de energia, que já foi considerada inviável, quando o preço beirava R$ 250 megawatts/hora, vem evoluindo. Nos leilões de 2010, a energia eólica vendida no complexo de Cerro Chato, por exemplo, foi vendida a R$ 131 o megawatts/hora, representando um deságio de 32%. “O aumento da competitividade provoca redução dos preços”, justifica Marilia.
Dados do setor
– O setor eólico brasileiro totaliza mais de 3.800 megawatts comercializados em leilões efetuados em 2009 e 2010, cuja energia será entregue até 2013.
– Hoje são 50 parques eólicos instalados no Brasil. Desses, 40 são oriundos do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) e, no total, em operação, estão sendo produzidos 930,5 megawatts.
– O Plano Decenal de Expansão Energética (PDE) 2008-2017, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, prevê investimentos de R$ 142 bilhões em geração de energia, e significará a adição de 63.935 megawatts de capacidade na matriz energética nacional.
– Uma alternativa para reduzir o valor da energia produzida pelos ventos é reduzir os impostos que incidem sobre os equipamentos eólicos. O governo cobra uma taxa de 14% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).