Quatro em cada seis brasileiros estão endividados. Entre os dois que não estão apenas um é investidor, segundo o acompanhamento do Instituto de Educação Financeira (IEF). Esses números são a prova incontestável do quanto a população de Norte a Sul do País não pondera na hora de usar o dinheiro e, segundo os especialistas, a situação mais problemática na forma de gastar não está nas classes emergentes, como poderia se pensar, mas em uma classe média estabelecida há anos e que tem parte de suas dívidas vinculadas ao consumo de bens que agregam status social.
“Não vejo problemas no consumo das classes emergentes que, nos últimos anos, passaram a ter acesso à primeira geladeira, etc. Nem considero o crédito disponibilizado para esses fins como o grande vilão de uma saúde financeira pessoal. O que acho condenável é a postura de uma classe um pouco mais acima, que já teve essas primeiras demandas atendidas, porém, segue pagando juros de cartão de crédito e cheque especial por consumir bens que conferem status de riqueza”, critica o doutor em finança pessoais e consultor o IEF, Jurandir Macedo Jr, um dos palestrantes desta quarta-feira (6), segundo e último dia da 6ª Expo Money, em Curitiba.
Na palestra “Seu relacionamento com o dinheiro mudou e o mundo muda com você” ele trouxe da biologia explicações para o consumo por impulso: “na parte posterior do cérebro humano possuímos a chamada amígdala cerebral que age sobre nossos instintos e é uma herança dos répteis no processo de evolução dos animais. Não podemos permitir que isso prevaleça sobre todas as nossas decisões de consumo, se não o resultado é devastador para a saúde financeira de qualquer um”. Baseado na ciência, ele recomenda a todos um exame profundo sobre o que se deseja e o que se quer. “Os pilares de uma boa saúde financeira estão estruturados no controle dos desejos, na realização dos quereres e na busca pela felicidade. As pessoas precisam saber diferenciar isso. Um jovem que sonhe em casar e fazer uma bela festa, por exemplo, deve equilibrar o quanto o desejo pela festa vai comprometer a rotina financeira do casal”, aponta.
É na mesma direção que o consultor financeiro pessoal Augusto Sabóia lamenta a distorção entre enriquecer e se endividar, que impera no Brasil. “O sujeito parece rico, mas não é. Ela gasta como rico e não ganha para isso. Pior, ensina os filhos a mesma dinâmica perversa com o dinheiro”, destaca. Para ele, um dos principais exemplos está no boom de vendas de automóveis. Para ele quem pensa que comprou um veículo por R$ 30 mil, está completamente equivocado. “Os R$ 30 mil foram pagos pela chave. O consumidor não põe na conta os gastos entre imposto, combustível e manutenção. Também não calcula quantos carros a mais ele paga ao financiar a compra. No final de cinco anos, o carro de R$ 30 mil representou R$ 130 mil e o sujeito, dependendo da renda, fatalmente estará no vermelho”, alerta.
Segundo ele, as consequências disso têm reflexos diretos na sociedade. “A maioria dos divórcios ocorre por conta de brigas de ordem financeira. A violência também tem relação direta com um patamar de consumo muito acima da realidade de cada um”.
A ausência de qualquer zelo pelo que se ganha, na avaliação de Sabóia, pode ser verificada em práticas bastante corriqueiras. “Quantas pessoas que conhecemos gastam de R$ 600 a R$ 800 com empregada doméstica ou com animais de estimação, mas são incapazes de investirem em um plano de previdência privada?”, questiona. Pelos cálculos de Sabóia, um cachorro, em 15 anos, vai custar para o dono algo em torno de R$ 300 mil. “E esse cálculo não inclui os exageros que já caíram no gosto popular, como bancar festa de aniversário ou correntinha de ouro para os bichinhos de estimação”, exemplifica.
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