O nível de endividamento das famílias paulistanas registrou forte alta em novembro, revertendo tendência de queda iniciada em julho. É o que aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), divulgada hoje. A taxa de endividamento cresceu 5 pontos porcentuais, passando dos 41% observados em outubro para 46%. Em contrapartida, na comparação com novembro de 2008, o nível apresentou baixa de 3 pontos porcentuais, de 49% para 46%. Em valores absolutos, a pesquisa mostra que o total de famílias que tem algum tipo de dívida avançou de 1,471 milhão para 1,656 milhão.
Na avaliação da entidade, o salto no número de endividados é reflexo dos sinais de arrefecimento da recessão mundial no País. O reaquecimento da economia levou os consumidores a contrair mais empréstimos, respondendo a uma demanda reprimida pela crise. “A atividade econômica, o mercado de trabalho e os indicadores de renda mostram evolução favorável, contribuindo para a elevação do consumo e do endividamento, que tendem a continuar crescendo a taxas mais expressivas com a aproximação das festas de fim de ano”, explicou a economista da entidade, Adelaide Reis. Ela destacou ainda que o consumidor está mais seguro e confiante sobre os rumos da economia brasileira, revelando alta intenção de consumo. “Tudo indica que este será o Natal das compras a crédito”, observou.
Apesar da alta no endividamento, o balanço da Fecomercio-SP apontou estabilidade na inadimplência e, de acordo com a entidade, o nível observado nos dois últimos meses está entre os mais baixos desde o início da série histórica da pesquisa, iniciada em 2004. O número de famílias com dívidas atrasadas permaneceu no patamar registrado em outubro, de 500 mil, ou 14% do total. “Os menores índices de contas em atraso foram observados este ano, nos meses de fevereiro (12%), outubro (14%) e novembro (14%)”, destaca Adelaide.
A economista atribuiu o resultado aos indicadores favoráveis do mercado de trabalho, à renegociação de contas em atraso, com taxas de juros mais baixas, e à quitação de dívidas por intermédio da utilização de recursos do 13º salário. Ela destacou ainda que o total de famílias que acredita não ter condições de pagar suas contas nos próximos meses aumentou um ponto porcentual, de 5% em outubro para 6% em novembro, permanecendo estável em comparação com a média deste ano e dos últimos 12 meses.
Dívidas no futuro – A Fecomercio-SP também abordou os consumidores sobre o peso das dívidas em sua renda familiar. De acordo com a pesquisa, entre as 1,656 milhão de famílias entrevistadas, 54% têm renda familiar comprometida com o pagamento de dívidas por até seis meses. Outros 20% têm a renda comprometida com dívidas entre seis meses e um ano, e para 23% dos entrevistados, o prazo de comprometimento da renda familiar mensal com dívidas é superior a um ano.
De acordo com Adelaide Reis, a expectativa é a de que as famílias continuem a fazer dívidas depois da ressaca causada pela recessão mundial. “A propensão a consumir está em alta. Os consumidores estão confiantes.” A economista alertou ainda para os riscos do crescimento da inadimplência nos próximos meses. “O consumidor acaba abusando nas compras com cartão de crédito. Tanto a queda da qualidade do crédito quanto o aumento dos prazos de pagamento da fatura do cartão devem elevar o nível de inadimplência”, ressaltou.
A avaliação da economista se deve ao fato de as dívidas com cartão de crédito terem sido, em novembro, as mais recorrentes nas famílias paulistanas. Do total de contas não quitadas no período, 68% foram assumidas no cartão. Na sequência, apareceram as dívidas no carnê (30%). A Fecomercio-SP coletou dados de 1.360 consumidores no município de São Paulo. No balanço, foram contabilizadas as dívidas com pelo menos um dia de atraso.