São Paulo (AE) – A despeito do que foi alardeado pelo governo e entidades do sistema financeiro, o risco dos empréstimos consignados em folha de pagamento existem, são altos e crescentes. Essa foi a avaliação feita por economistas reunidos ontem num seminário sobre crédito ao consumo promovido pela Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).
De acordo com os especialistas, esse tipo de crédito deve ter um efeito pouco desejado no sistema financeiro e no varejo, podendo ser responsável por um aumento da inadimplência e, conseqüentemente, pelo encarecimento em outras linhas de crédito ao consumidor e redução dos volumes concedidos.
Para o sócio da ABM Consulting, Alberto Borges Matias, os agentes do sistema financeiro erram ao classificar os empréstimos consignados como de risco muito baixo. Ao contrário, para o especialista em crédito, o risco é elevado e deve aparecer proximamente. ?O fato é que a maioria dos tomadores, principalmente aposentados, têm tomado o crédito para saldar outras dívidas, o que reduz a capacidade de pagamento dele.?
Um estudo realizado pelo Ibope a pedido do banco Cruzeiro do Sul, divulgado anteontem, mostrou que 60% dos aposentados do INSS que tomaram dinheiro em linhas consignadas usaram o capital para saldar outros compromissos. O levantamento foi feito a partir de um universo de 500 tomadores.
Segundo Matias, pesquisas conduzidas por ele na Universidade de São Paulo (USP), onde atua como professor do Departamento de Economia, mostram que o perfil do consumidor insolvente passa pela assunção de dívidas para quitar outros débitos. ?Tomar uma dívida para pagar outra é última solução do tomador antes de se tonar insolvente?, alerta.
Para o economista, o primeiro ciclo do crédito consignado, que privilegiou o pagamento das dívidas atreladas a taxas de juros mais altas, se aproxima do fim e pode desembocar num surto de inadimplência. ?Nos próximos meses pode haver uma explosão de insolvência e uma bolha no sistema financeiro.?
Outra preocupação diz respeito à apreciação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a legalidade da retenção do salário para pagamento dos empréstimos consignados. Atualmente, existem diversas ações no País que pedem o reconhecimento da impenhorabilidade dos salários. ?Aí os contratos cairão todos por terra. Isso mostra que as linhas consignadas não são totalmente seguras?, diz Marcel Solimeo, superintendente do instituto de economia da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Para Solimeo, não é uma possível inadimplência nos empréstimos consignados que preocupa, mas o efeito que esse crédito pode ter sobre outras linhas. ?O aumento do endividamento por meio do consignado pode ter como efeito o crescimento da inadimplência em outras linhas.? O economista classifica como uma ?irresponsabilidade? a decisão do governo de permitir a tomada de créditos no valor de até 30% da renda dos aposentados.