Um único empréstimo concedido em conjunto pelos grandes bancos poderá de uma tacada só piorar a situação de provisão para calotes de algumas instituições. A Sete Brasil, uma empresa pré-operacional criada para gerenciar a compra de 29 sondas para o pré-sal da Petrobrás, deve US$ 3,6 bilhões, ou quase R$ 11 bilhões, se convertido ao dólar de sexta-feira, em empréstimos já vencidos.
A empresa passa por sérias dificuldades financeiras e tem até o fim de junho para resolver sua situação, ou seja, encontrar um novo financiador. Além de dever aos bancos, a empresa também tem dívidas vencidas de R$ 2,2 bilhões com o FI-FGTS e outros R$ 3 bilhões com estaleiros.
Com os bancos, a empresa tem cinco linhas de crédito. A última delas venceu em março deste ano. Nesta época, as instituições renegociaram o financiamento e concederam um novo prazo, de 90 dias, para que a Sete Brasil acertasse as contas. Parte da estratégia das instituições foi justamente a de evitar o reconhecimento de perdas em balanço.
Pelas regras do Banco Central, quando há uma renegociação, não é preciso fazer a provisão. “Isso vale para uma primeira renegociação”, diz Claudio Gallina, diretor da FitchRatings. “Se os bancos tiverem que conceder um novo prazo, já precisam começar a reconhecer perdas.”
Sigilo. Os bancos usam do argumento do “sigilo bancário” para não informar quanto estão expostos à Sete e quanto provisionaram ou não em relação ao empréstimo. A informação disponível é a de que os bancos financiadores são: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú, Santander e Standard Chartered. Destes, o único que até agora reconheceu o calote publicamente foi o Standard Chartered, ao executar uma garantia dada pelo Fundo Garantidor da Construção Naval (FGCN) para parte deste empréstimo.
Os outros bancos tem 90 dias, contados a partir do primeiro atraso no pagamento, para oficializar o pedido de execução com o FGCN, caso contrário perdem o direito aos recursos do fundo. Cerca de 40% do total financiado foi garantido pelo FGCN.
Segundo algumas fontes, os bancos públicos estão mais expostos à empresa. Mas não há confirmação do total emprestado por cada uma das instituições. Os bancos privados também tem valores significativos emprestados à Sete. Cada um deles, Bradesco, Itaú e Santander, teriam pelo menos R$ 1 bilhão de exposição, segundo algumas fontes.
Provisões. O problema da Sete se soma à exposição dos bancos ao ramo da construção envolvida na Lava Jato, ae óleo e gás e também ao risco mais elevado no varejo. Segundo estudo da agência Moody’s, alguns bancos não suportariam o aumento de provisões e relatariam prejuízos, caso do Citibank e HSBC, além dos bancos BNDES e Caixa Econômica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.