Bolso inteligente

Emprestar dinheiro para cobrir gastos pode ser uma roubada

Emprestar dinheiro. Quando o salário não dá conta de todos os gastos, a ideia vira uma forte tentação, que reserva uma vida financeira infernal pros que se rendem a ela sem planejamento. Se a conta não está fechando sem a parcela do empréstimo, como você fará pra pagar todas as suas despesas e mais esse débito? Prestação essa que se repetirá mês após mês até saldar o valor tomado e todo o custo da operação, que inclui juros e taxas. Ou seja, o sacrifício financeiro será necessário com ou sem empréstimo. Com a palavra, quem já recorreu a essa medida e especialistas convocados pelo Paraná Online pra guiar quem está se sentindo com a corda no pescoço frente às despesas do dia a dia.

No limite

A saga da jornalista Camile Triska, 34 anos, representa bem a vida de boa parte dos assalariados. Os ganhos não atendiam às despesas do mês e não demorou pra que o limite do cheque especial e o cartão de crédito se tornassem parte da renda. “Quanto mais usava o limite, mais o banco aumentava e o mesmo aconteceu com o cartão. Quando vi, meu pagamento entrava pra cobrir o limite do banco, entrei no crédito rotativo do cartão e a bola de neve parecia não ter fim”, conta.

O passo seguinte foi ir ao banco renegociar a dívida, trocando os juros impagáveis (veja o quadro) por um empréstimo pessoal com juros também elevados, mas bem diferentes. O problema é que essa aparente solução não eliminou as despesas que Camile continuava a ter e o empréstimo se tornou impagável. “Mesmo com juro menor, depois que atrasei algumas parcelas, a dívida saltou de patamar”.

A parte do sacrifício financeiro só veio depois desse desequilíbrio total. A difícil tarefa de viver com o que ganha está sendo cumprida por Camile, eliminando gastos em todos os setores, incluindo alimentação, luz e pequenos prazeres, como ir ao bar com os amigos. “Não está sobrando pra poupar, mas vou aumentar minha renda com ‘freelas’ e ainda farei isso. Emprestar dinheiro, nunca mais”.

Pesquisar é preciso

Além de rever o próprio comportamento diante dos gastos, a renegociação envolvendo um empréstimo com taxa de juros menor exige muita pesquisa junto às instituições. “Os sites do Banco Central e Anefac [Associação Nacional dos Executivos de Finanças] fazem levantamentos mensais dos juros pra esse acompanhamento, mas isso não exclui a importância de ir pessoalmente, pois o que importa é olhar pro custo efetivo total do empréstimo. Além disso, cada pessoa tem um grau de risco diferente e isso é levado em conta na negociação”, explica o advogado e gerente jurídico da Fiel Consultoria, Cristian Miguel.

O preço do dinheiro

Mesmo sendo um bom negócio pra instituição que empresta, já que nenhum outro investimento dá o retorno dos juros recebidos por emprestar dinheiro, as medidas adotadas pela equipe econômica desde o início deste ano tentam conter o consumo, pra tentar diminuir a pressão sobre os preços (inflação). É por essa razão que a Selic, taxa básica de juros do Banco Central, só subiu neste ano e, atualmente, é de 13,25%.

O problema que os efeitos dessa taxa nos empréstimos são multiplicados, ou seja, o preço do dinheiro a ser pago pelo tomador é muito alto. “Quem está usando cheque especial está pagando 9,49% ao mês e 205,06% ao ano”, aponta o economista e Coordenador do curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Carlos Magno Bittencourt.
Ele acrescenta que do outro lado, quem tem dinheiro aplicado em poupança ou renda fixa recebe menos de 1% de juros de re,muneração ao mês. “Por isso que neste momento, quem está precisando de dinheiro e tem reservas, deve mexer nessas aplicações, pois os juros cobrados do devedor engolem várias vezes qualquer rentabilidade dada ao investidor”, orienta.

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