No primeiro ano da Lava Jato, a capacidade financeira das empresas envolvidas na operação foi afetada e o volume de dívidas reestruturadas pelas empresas brasileiras chegou a R$ 100 bilhões. Dois anos depois, com a economia em recessão, crise política atrás de crise política, esse número já está 5 vezes maior e bateu a casa dos R$ 500 bilhões. E com um agravante: as empresas que renegociaram seus débitos nesse período, porque não tinham dinheiro para honrar os pagamentos, continuam sem caixa e estão voltando a bater na porta de seus credores para renegociar o que já tinha sido renegociado.
Os dados são da consultoria Alvarez & Marsal e levam em conta as dívidas com bancos, fornecedores e com a emissão de títulos, como debêntures e bônus externos. Dos R$ 500 bilhões, cerca de R$ 180 bilhões são de dívidas que estão sendo reestruturadas no âmbito de uma recuperação judicial. O restante, R$ 320 bilhões, foi ou está sendo renegociado diretamente com os credores.
“A realidade é que não estamos vendo nenhuma reação da economia e isso faz com que as empresas demorem a recuperar sua capacidade de caixa”, diz o presidente da Alvarez & Marsal, Marcelo Gomes. “E a delação da Odebrecht pode contaminar o governo e a política de forma bastante forte.”
Neste cenário traçado por Gomes, que ainda inclui um Natal não muito promissor para o varejo, é que as empresas começam a buscar novas rodadas de negociação. É a chamada “reestruturação 2.0”. Já há até casos de empresas em “reestruturação 3.0” – em apenas 18 meses, entraram em três renegociações. Um dos casos é da empresa Log In, dona do Terminal Vila Velha, no Espírito Santo. A empresa alongou dívidas com o BNDES em 2015, renegociou financiamentos em maio último e, segundo fontes, já está em nova renegociação. Procurada, não quis comentar.
Walter Malieni, vice-presidente do Banco do Brasil, diz que o problema é que a crise está sendo muito longa, dificultando a vida principalmente das empresas que têm faturamento de até R$ 300 milhões. Para elas, a situação é mais crítica, porque têm pouca alternativa de financiamento, menor capacidade de capital e também menor capacidade de entrar em um processo de fusão ou aquisição. A situação crítica fez até com que os bancos mudassem a forma de renegociar dívidas com as empresas de médio porte. Antes, faziam unilateralmente. Agora, sentam com os outros credores da companhia, em um processo muito parecido com as reestruturações de dívida de grandes empresas.
Para a empresa, a vantagem de uma negociação que reúna todos os credores é que aumenta a chance de conseguir prazo de carência do pagamento das amortizações. Nas grandes renegociações, a carência é comum. Uma das mais emblemáticas foi a da Odebrecht Agroindustrial. A empresa tinha R$ 13 bilhões em dívidas, fluxo de caixa negativo e, portanto, uma dívida impagável. Na reestruturação, conseguiu cinco anos de carência para começar a pagar as parcelas principais, porque os bancos consideraram que esse era o tamanho ideal do ciclo para que a empresa volte a gerar caixa. Mas, em contrapartida, o grupo teve de dar uma de suas empresas mais bem-sucedidas em garantia aos bancos: a Braskem.
A exigência de novas garantias e aval dos sócios é, na maioria dos casos, condição para o início de uma renegociação. Isso significa que, ao entrar em uma nova rodada, as empresas acabam tendo de fazer novas concessões, mais traumáticas. Quando chegam nesta fase, os bancos começam a exigir mudanças radicais, como a troca de comando, de estratégia de negócio e também de processos operacionais, segundo o advogado Pedro Bianchi, do escritório Felsberg, especializado em reestruturações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.