Rio (AG) – As ações de empresas que têm receita em dólar – como as exportadoras e as companhias com subsidiárias relevantes no exterior – saíram ilesas do furacão que passou pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) este ano. Os ganhos de quem investiu certo chegaram a 63% no primeiro semestre.
Enquanto o mercado acionário nacional perdeu 17,96% do seu valor, o maior recuo em 30 anos para um primeiro semestre, e o Ibovespa (índice que reúne as ações mais negociadas no pregão) caiu 20%, entre janeiro e junho a valorização de alguns papéis chegou a 63%, caso das ações preferenciais da Caemi; a 50%, dos papéis da Gerdau; e foi de 35% no caso da Companhia Vale do Rio Doce.
– Apesar da turbulência, quem aplicou nestes papéis e nas ações da Embraer e da Coteminas foi o grande investidor do primeiro semestre, pois simultaneamente ganhou em reais e em dólar (que valorizou-se 24,46% este ano) – afirma Régis Abreu, diretor de renda variável da administradora de recursos Mercatto.
Além de serem beneficiadas pela alta do dólar (têm proteção natural em momentos de desvalorização cambial, ficam com produtos mais baratos para vender ao exterior e aumentam suas receitas automaticamente em reais), essas companhias têm em comum o baixo endividamento e uma história de lucros crescentes ou estáveis, independente de como foi o ambiente econômico dos últimos anos.
Setorialmente, os destaques no primeiro semestre foram mineração (41,3%) e papel e celulose (22,7%). Na contramão, telecomunicação (-17,6%) e energia elétrica (-11,4%) foram os micos do período.
– Teles e elétricas têm a pior combinação do momento: receita em reais e dívida elevada – explica Álvaro Bandeira, da corretora Ágora Sênior.
Ações da Vale
Os trabalhadores que subscreveram ações da Vale do Rio Doce na oferta pública de março deste ano com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) estão no grupo dos investidores mais bem-sucedidos do primeiro semestre. Segundo Mário Avelino, presidente do Instituto FGTS Fácil, em três meses a valorização das ações da Vale foi de 42%, contra correção do saldo do Fundo de minguados 0,95%.
– Foi a melhor e mais segura aplicação do ano -afirma Régis Abreu, da Mercatto.
Os fundos Petrobras/FGTS, formados na oferta pública de agosto de 2000, acumulam valorização de 56%, contra correção de 11% dos saldos parados na Caixa Econômica. Apesar de ter lucro alto e receita em dólares, a estatal foi abalada pela desconfiança em relação aos rumos da política econômica após as eleições. Este ano, suas ações preferenciais já têm perdas de 2,5%.