As incertezas do período eleitoral e das medidas que serão adotadas pelo futuro governo fizeram com que dobrassem as remessas de recursos para o exterior das companhias este ano em relação a 2001. João Alberto Bernacchio, diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF-SP) e ex-presidente da Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (Abamec), observa que as remessas mensais saíram de uma média de US$ 500 milhões no ano passado para valor superior a US$ 1 bilhão nos últimos meses.

        Keyler Carvalho Rocha, diretor-técnico do IBEF-SP, observa que houve uma tendência este ano também de remessa de recursos para o exterior por parte das pessoas físicas de alta renda que aguardam a definição do quadro eleitoral e as primeiras medidas do próximo governo para voltarem a aplicar recursos no País. Segundo Rocha, empresas multinacionais têm solicitado às filiais que antecipem o pagamento dos dividendos para antes das eleições. O dirigente observa ainda que bancos internacionais estão concedendo descontos de até 30% para as empresas que têm vencimento de empréstimos externos no próximo ano, se houver o pagamento antes das eleições.

        Dirigentes que participam do XIII Congresso Nacional de Executivos de Finanças observam que o quadro tem se agravado. Um grande banco estrangeiro exigiu juros de 40% ao ano para renovar um título cambial de US$ 600 milhões que venceu nessa semana. O Banco Central não aceitou pagar a taxa e recomprou os papéis. A instituição remeteu os recursos para o exterior, pressionando as cotações do dólar na quinta-feira.

        O câmbio está acima de R$ 3 também pela escassez de linhas de financiamento ao comércio exterior do Brasil por parte dos bancos internacionais. O diretor de um dos maiores bancos em atuação no Brasil observa que houve uma melhoria após as apresentações do ministro da Fazenda, Pedro Malan e do presidente do BC, Armínio Fraga, no exterior, mas mesmo assim as linhas passaram de 30% para 50% das predominantes no ano passado.

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