A tradicional supremacia das empresas espanholas, comum nos leilões de linhas de transmissão de energia elétrica dos últimos três anos, deu lugar a uma maior competitividade entre empresas estrangeiras, nacionais e estatais no round desta quarta-feira (7) realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), na Bolsa de Valores do Rio.
"É natural que as empresas nacionais e as estatais tenham se posicionado melhor no leilão de hoje, porque estão se inserindo neste novo processo e parecem estar mais dispostas a correr risco", disse o diretor da Aneel, Romeu Donizete Rufino. No total, a Aneel leiloou 1.941 quilômetros de linhas de transmissão, que serão construídos em dez Estados e devem entrar em operação entre 2009 e 2010. O investimento total será de R$ 1 bilhão e devem ser gerados 9.620 empregos.
Os três maiores empreendimentos oferecidos no leilão ficaram com investidores diferentes, as estatais ficaram com os três lotes de menor porte, e a única empresa espanhola a arrematar um pacote ofertado foi a Cymi Holding. A companhia manteve a regra espanhola de apertar as margens e ofereceu o maior deságio hoje, de 56,86%, sobre a receita esperada a partir da construção de 400 quilômetros ligando os Estados do Piauí, Pernambuco e Ceará.
"Não dá para dizer que foi o fim da era dos espanhóis no Brasil, mas sim que nenhum investidor consegue sustentar por muito tempo um perfil tão agressivo e com remuneração tão apertada", disse Sidnei Martini, da Companhia de Transmissão Paulista de Energia Elétrica (CTEEP), empresa privatizada em 2006 e hoje sob controle da colombiana ISA, responsável por arrematar o principal lote do leilão, com 720 quilômetros no interior do Piauí.
Essa foi a primeira aquisição da CTEEP fora do Estado de São Paulo, onde já possui mais de dez mil quilômetros de linhas de transmissão. Segundo Martini, a empresa agora busca novos horizontes, principalmente visando a integração com outros países da América do Sul, onde sua controladora já atua. "Estamos de olho no Complexo do Madeira e certamente vamos participar do leilão no próximo ano", disse, lembrando que a empresa vem com "apetite" e que está disposta a seguir a estratégia espanhola de apertar ao máximo seus ganhos para entrar no País e diluir o lucro no longo prazo.
"O Brasil hoje é um país muito atrativo porque, ao contrário dos outros países asiáticos em desenvolvimento, optou por um crescimento mais lento e que aparenta ser mais sólido", comentou. Para este empreendimento, a CTEEP pretende investir cerca de R$ 470 milhões, quase a metade do volume total a ser aplicado nas linhas leiloadas hoje.
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