Produção

Empresários consideram que há um excesso de feriados no País

As pausas de funcionários para assistir a jogos do Brasil na Copa do mundo prejudicam menos as companhias do que o excesso de feriados vigentes no País. Ao menos é o entendimento de especialistas e representantes do setor industrial.

Em relação aos feriados, há um consenso de que existe excesso, no País. No caso da Copa, nem todos concordam: para alguns, o momento é oportunidade para incentivar a integração; outros aproveitam para dispensar os colaboradores, e também há quem não queira parar o trabalho nem durante as partidas.

“Não há perda”, afirma o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Hélio Bampi, em relação às pausas para a Copa. “O evento já está na agenda das indústrias, de quatro em quatro anos. Elas se programam antecipadamente e se adaptam para que haja essa janela durante os jogos”, explica. “O que causa prejuízo não são essas pausas. São, sim, os gargalos da nossa infraestrutura, a carga tributária, a volatilidade do câmbio”, completa o dirigente, que também é empresário.

Segundo Bampi, a adaptação é feita de diversas formas, como compensação de horas, mudanças nos horários de expediente do dia, ou mesmo a dispensa dos empregados. Mas, para ele, o clima que se cria em torno dos jogos da Seleção Brasileira pode até ser benéfico para as companhias.

“São momentos bastante interessantes, do ponto de vista do relacionamento, da interação entre grupos e pessoas. Os colaboradores convergem em torno de algo em comum, e isso é bom”, diz.

Claro que essa interação é mais sentida quando os jogos são acompanhados dentro das próprias empresas, que disponibilizam televisores, telões, anfiteatros e às vezes até alguns mimos para os funcionários.

Mas Bampi diz que, mesmo nos casos em que cada colaborador vai para sua casa acompanhar a Seleção, só o clima criado pela competição já ajuda a afinar a sintonia entre as pessoas.

O dirigente da Fiep lembra, também, que ainda que as pausas gerassem prejuízo, vários segmentos da indústria também acabam lucrando com a Copa. “Aumentam as encomendas nos setores gráfico e têxtil, por exemplo”, observa.

Ele também frisa que há setores que nem chegam a parar. Empresas que possuem fornos industriais, por exemplo, não podem se dar o luxo de manterem os equipamentos desligados ou sem acompanhamento.

Perda

Ao contrário do vice-presidente da Fiep, o professor Emerson Costa Lemes, que também é contador e especialista em Direito do Trabalho, avalia as pausas para a Copa como “ruins para o País, como um todo”.

Ele afirma que as empresas perdem muitas horas de produção de qualquer jeito, seja dispensando os colaboradores durante o período dos jogos, ou mesmo os reunindo para assistirem às partidas na própria sede. Nesse caso, a pausa, por mais breve que seja, atrapalha o andamento dos trabalhos.

Mas Lemes admite que dificilmente essa cultura vai mudar. “É complicado fazer as coisas de outra forma, pois mexe muito com os sentimentos das pessoas”, diz. Como a pausa é inevitável, ele diz que a solução é pedir que os funcionários compensem o tempo não trabalhado no mesmo dia, ou via banco de horas. “As empresas mais liberais dispensam mesmo. Mas poucas abrem mão dessas horas de trabalho”, afirma.

Estatísticas

De acordo com um levantamento feito pela empresa de recursos humanos Curriculum com 574 companhias, ainda antes da Copa, a maioria (63,25%) tinha a intenção de dispensar seus funcionários durante o período dos jogos.

O restante (36,75%) afirmou que não pretendia liberá-los para assistir às partidas. Das empresas que planejaram liberar os colaboradores, apenas 55,2% planejaram algum tipo de confraternização com os funcionários, sendo que 56,9% delas afirmaram que iriam patrocinar integralmente os comes e bebes. Outras 19% ainda não tinha,m pensado no assunto.

Para o jogo contra Portugal, que será na próxima sexta-feira (25), às 11h, 53,1% das empresas devem pedir que seus empregados voltem ao trabalho logo após o jogo.

Se a Seleção Brasileira se classificar para a próxima fase, os jogos podem acontecer no dia 28 (segunda-feira) ou 29 (terça-feira), às 15h30. Nesse caso, a grande maioria das empresas (83,8%) deve manter a política já adotada nos jogos anteriores.

Alguns feriados poderiam ser suprimidos

Diferentemente dos jogos da Seleção Brasileira nas copas, os feriados não são vistos com a mesma permissividade pelo vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Hélio Bampi.

“Nesse caso, achamos que o Brasil tem feriados demais. É algo problemático, por que é sistemático e endêmico”, avalia, afirmando que as datas não agregam nada às indústrias, “a não ser um dia útil a menos na semana. São diferentes de um evento que acontece em uma janela no calendário”, completa.

Na avaliação do vice-presidente da Fiep, uma série de feriados poderia ser suprimida dos calendários no Brasil. Entre os que ele considera excessos, estão algumas datas cívicas, bem como religiosas, como dias de homenagens a padroeiras de municípios ou a Quinta-Feira Santa, por exemplo.

“No caso das padroeiras, as comemorações poderiam acontecer nos fins de semana”, sugere. Ele lembra que os pontos facultativos, comuns nos órgãos públicos, também ajudam a piorar a situação.

Só em Curitiba, ainda estão programados mais seis feriados para o ano, sem contar as possíveis “emendas”: o dia da Independência do Brasil (terça-feira, 7 de setembro), seguido da data da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, no dia seguinte.

O próximo é o dia de Nossa Senhora Aparecida (terça-feira, 12 de outubro), seguido de Finados (terça-feira, 02 de novembro), Proclamação da República (segunda-feira, 15 de novembro) e, no caso de empresas que funcionam aos sábados, o Natal (25 de dezembro).

O especialista em Direito do Trabalho Emerson Costa Lemes, que estará em Curitiba entre os dias 15 e 17 de julho, para ministrar um curso sobre cálculos trabalhistas do Instituto Nacional de Ensino Jurídico Avançado (Ineja), também é contra o exagero de feriados no País.

“São dias sem produção. Um mês como fevereiro, por exemplo, que tem o Carnaval, é terrível”, opina, lembrando que a data nem chega a ser um feriado oficial – a pausa é apenas aceita informalmente entre empresa e funcionários.

Para Lemes, os feriados em excesso nem chegam a encontrar justificativa no descanso revigorante para os colaboradores. “Estamos mal-acostumados. Há países em que as férias são de 10 dias. Não existe toda essa necessidade de descanso”, afirma.

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