A Global Brasil, empresa formada por 700 credores da Fazenda Reunidas Boi Gordo S.A., protocolou ontem na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) pedido de emissão de 1,234 bilhão de ações. Segundo o diretor-presidente da Global Brasil, Adriano Lunardon, o objetivo da operação é trocar os contratos de investimentos coletivos (CICs) por ações que serão usadas para comprar ativos da empresa concordatária. Quando a Boi Gordo pediu a concordata, em 16 de outubro de 2001, as dívidas somavam R$ 800 milhões. Corrigido, o valor chega hoje a R$ 1,2 milhão.
“Pelo que se tem notícia, é a maior concordata do Judiciário brasileiro em curso”, comenta Lunardon. “Se fôssemos esperar uma solução do Judiciário, estaríamos fadados a uma espera não inferior a 10 a 15 anos, com a possibilidade de receber pouco”, explica. A Global Brasil foi constituída em novembro de 2001 como sociedade anônima de capital fechado, com objetivo de reunir credores da empresa em concordata para negociar formas de recebimento dos contratos. Atendendo à orientação da CVM em março de 2002, a empresa se preparou para abrir o capital. Em março deste ano, saiu o registro para operar como sociedade anônima de capital aberto.
Dos quase 30 mil credores da Boi Gordo, cerca de 1,2 mil estão no Paraná. A Global começou com credores paranaenses, e hoje está sediada em São Paulo, onde estão 90% dos credores da concordatária. Dos 700 acionistas, cujos contratos somam R$ 54 milhões, em torno de 300 são do Paraná. O foco da oferta pública de ações são os pequenos investidores da Boi Gordo. “25% do que a Boi Gordo deve está nas mãos de 25 mil credores; 75% está nas mãos de 20% de credores”, cita Lunardon.
Liquidez
A reserva das ações será feita a partir de hoje, às 9h. Quem aderir, ficará com o contrato custodiado no Banco Itaú até que a Delloite Touche Tohmatsu – auditoria contratada pela Global – termine o mapeamento do ativo e passivo da Boi Gordo, previsto para ser concluído em 120 dias. As ações serão emitidas única e exclusivamente pelo valor patrimonial e negociadas na Soma, que funciona como meio de acesso de pequenas empresas ao mercado de capitais, dentro de no máximo 30 dias – prazo para a CVM autorizar a emissão definitiva dos papéis.
“Com a auditoria, teremos condições de fazer uma proposta de mercado à Fazenda Reunidas Boi Gordo para trocar os contratos por ativos da empresa concordatária”, explica Lunardon. O ativo da empresa – que inclui 117 fazendas – está avaliado em R$ 600 milhões. Como a dívida é de R$ 1,2 bilhão, significa que cada R$ 1 aplicado está valendo R$ 0,50. Para gerar liquidez aos investimentos, a Global planeja empreender sobre as terras que adquirir da Boi Gordo.
Mas a Global admite que, apesar das perspectivas favoráveis com o lançamento das ações, o projeto tem riscos. “Caso nosso projeto eventualmente não prospere, temos que ter uma retaguarda. Por isso, estamos atentos ao que acontece no trâmite do processo da concordata”, explica Lunardon. Dois anos após o pedido de concordata, não se sabe qual o foro judicial que vai conduzir a ação. Mais informações no site www.globalbrasil.com .