Depois de um ano histórico em que o emprego alcançou níveis elevados de crescimento, as contratações começaram a desacelerar no Paraná e o resultado foi um início de ano fraco em comparação com outros estados e em relação aos anos anteriores. Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged/Ministério do Trabalho e Emprego), divulgados ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), o nível de emprego formal no Paraná apresentou em janeiro crescimento de 0,19% – bem abaixo da média nacional, de 0,47% -, o que representou 3.200 postos de trabalho. O resultado do Paraná foi também o pior janeiro desde 2002, quando a variação foi de 0,08%.
O crescimento de 0,19% no nível de emprego foi impulsionado pela Região Metropolitana de Curitiba, que registrou crescimento de 0,62% e saldo de 4.099 postos de trabalho. Já o interior teve um desempenho ruim, com variação negativa de 0,09% e saldo negativo de 899 empregos. O motivo é a agricultura, já que janeiro é um período de entressafra, quando muitos trabalhadores são demitidos.
Com o resultado de janeiro, o número estimado de trabalhadores com carteira assinada no Paraná é de aproximadamente 1,740 milhão.
?O ano de 2005 começou com desaceleração na geração de empregos, o que já era esperado?, apontou o supervisor técnico do Dieese-PR, Cid Cordeiro. Segundo ele, o mau desempenho pode ser resultado das taxas de juros, que vêm subindo desde o segundo semestre do ano passado. ?O aumento das taxas pode estar fazendo com que o empresário tenha cautela e espere para ver se mantém a produção ou não?, explicou Cordeiro.
Para o economista Sandro Silva, outro fator que influencia o nível de emprego no Paraná são as exportações. ?O cenário não está tão positivo como no ano passado. O real valorizado e a cotação internacional (commodities) em queda podem afetar as exportações do Estado. Se não houver reversão da taxa de câmbio, a situação pode se agravar ainda mais ao longo do ano?, alertou Silva.
Entre os setores que mais empregaram no mês, destaque para Serviços (2.252 postos), Comércio (1.252) e a Indústria de Transformação (933). A agricultura foi o único setor que apresentou queda, com saldo negativo de 2.251 empregos.
Região Metropolitana
Ao contrário do interior, a Região Metropolitana de Curitiba vem mostrando desempenho positivo quando o assunto é geração de empregos. O crescimento de 0,62% e o saldo de 4.099 postos de trabalho, registrados em janeiro, foram os melhores resultados desde 1990. ?O bom desempenho se deve sobretudo à retomada do crescimento do mercado interno?, apontou Sandro Silva. Na comparação entre as nove regiões metropolitanas do País, a RMC ocupou a segunda colocação na variação do nível de emprego (0,62%), atrás apenas de São Paulo (0,77%) e acima da média nacional (0,42%).
Os setores que mais empregaram no mês foram Serviços (1.564 empregos) e a Indústria de Transformação (1.544). O Dieese estima que a taxa de desemprego na RMC é de 15%, o que corresponderia a aproximadamente 200 mil desempregados.
Mulheres ganham menos que os homens
As mulheres têm maior grau de instrução na comparação com os homens, mas ainda recebem salários bem inferiores. É o que revelam dados divulgados ontem pelo Dieese-PR. Segundo o supervisor técnico do Dieese-PR, Cid Cordeiro, no Paraná as mulheres recebem até 40% menos do que os homens. Isso especialmente por conta do trabalho doméstico, que tem baixa remuneração e é exercido pelas mulheres. Excluindo o trabalho doméstico, a diferença salarial cai para 19,24%. Já as mulheres que trabalham por conta própria têm rendimento até 30% menor do que homens, enquanto entre empregadores, a diferença é de 37%.
Quanto à escolaridade, 24,7% dos homens no Paraná têm segundo grau completo, enquanto entre as mulheres a participação aumenta para 33,72%. ?Existe pressão maior para que os homens entrem mais cedo no mercado de trabalho?, afirmou o economista Sandro Silva, justificando a diferença de escolaridade entre ambos os sexos.
Outro dado que chama a atenção é quanto ao desemprego: enquanto no Paraná, em 2003, a taxa de desemprego entre os homens era de 6,6%, entre as mulheres era de 7,8%. Por outro lado, a jornada de trabalho para elas é menor em quase 15% em nível nacional e 7% no Paraná. ?Elas têm emprego em tempo parcial devido a outras tarefas, como cuidar de casa, levar os filhos à creche?, explicou Cid Cordeiro.
Para a presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba, Marisa Stédile, o que chama a atenção é a ausência de mulheres em cargos executivos. Segundo dados do Ministério do Trabalho, das 10.453 bancárias do Paraná em junho do ano passado, apenas 26 ganhavam acima de 20 salários mínimos. Entre os homens, dos 13.161 funcionários, 2.114 recebiam mais do que 20 salários mínimos. ?Apenas 5% dos bancos no Brasil têm mulheres na direção?, apontou Marisa, acrescentando que ainda há muito preconceito sobre o sexo feminino. (LS)