Os riscos para a estabilidade financeira global deixaram de vir principalmente dos países desenvolvidos e agora estão concentrados nos emergentes, na avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Nos últimos seis meses, o sistema financeiro global passou a refletir a tendência divergente de crescimento econômico entre as nações e a força desinflacionária trazida pela queda nas commodities. Enquanto a zona do euro e o Japão tomam medidas firmes de política monetária para estimular suas economias e reverter a queda na inflação, a expectativa de alta nos juros dos Estados Unidos desencadeou uma onda de valorização do dólar.
“Os mercados emergentes foram pegos nessa encruzilhada global e enfrentam riscos mais elevados para a estabilidade financeira, pois empresas que tomaram empréstimos pesadamente nos mercados internacionais podem se deparar com dificuldades nos balanços”, diz o FMI no relatório Estabilidade Financeira Global, divulgado hoje durante a reunião de Primavera do Fundo, em Washington.
A elevada volatilidade e a rápida depreciação das moedas locais se sobrepõem ao benefício do aumento de competitividade trazido pela desvalorização cambial nos emergentes, acredita o órgão. “De forma geral, esses choques elevaram os riscos para a estabilidade financeira nas economias emergentes, dado o aumento da alavancagem nos setores público e privado, e as autoridades precisam reforçar a supervisão dos segmentos vulneráveis.”
Na avaliação do Fundo, a volatilidade no câmbio subiu, nos últimos meses, mais do que em qualquer outro período desde a crise global. A forte desvalorização cambial aumenta a pressão sobre as empresas que tomaram fortemente financiamentos em moeda estrangeira e desencadeia significativa fuga de capital das nações em desenvolvimento.
“A resultante tensão global elevou os riscos de mercado e liquidez, dado que episódios repentinos de volatilidade podem se tornar mais comuns e pronunciados.”
Para amortecer possíveis impactos de tensões nos mercados, os emergentes devem aumentar a supervisão de setores vulneráveis, recomenda a instituição. O FMI sugere que os reguladores conduzam testes de estresse nos bancos, observando a exposição a moeda estrangeira e riscos referentes aos preços das commodities. Além disso, as autoridades precisam se preparar para lapsos de liquidez no mercado de títulos local. O órgão acredita que acordos de linhas de swaps entre países, que permitam acesso a moeda estrangeira em períodos de dificuldade, podem elevar a confiança e reduzir os problemas.
“Entre os emergentes de modo geral, a grande proporção de dívida denominada em moeda externa significa que medidas micro e macroprudenciais têm um papel importante em limitar o risco de choques”, avalia o Fundo.