A Embraer assinou ontem em Pequim o contrato para a construção de uma unidade industrial na China, por meio de uma joint venture com a Harbin Aircraft Industry Group Co. e a Hafei Aviation Industry Co., companhias controladas pela China Aviation Industry Corporation II (Avic II). Com isso, a Embraer dá o primeiro passo para se transformar em uma multinacional. Segundo a companhia brasileira, “o objetivo deste, que é o primeiro empreendimento industrial da Embraer fora do Brasil, é melhor atender ao mercado chinês de aviação comercial com os aviões da família ERJ 145”.
São Paulo
– Denominada Harbin Embraer Aircraft Industry Company, Ltd., a nova empresa terá sede na cidade de Harbin, capital da Província de Heilongjiang. O investimento na joint venture será de US$ 25 milhões. A nova unidade de produção terá uma área de 24 mil metros quadrados, devendo empregar até 220 pessoas.– Este evento representa um marco importantíssimo não apenas na história da Embraer, mas também na história das relações bilaterais entre a China e o Brasil. Ambos os países têm um enorme potencial para a cooperação em diversas áreas de interesse, e estamos certos de que este é apenas o primeiro passo em direção a um futuro repleto de realizações de sucesso – afirmou o diretor-presidente da Embraer, Maurício Botelho, durante a assinatura do contrato em Pequim.
Segundo ele, “a Harbin Embraer Aircraft Industry Company será um importante instrumento para alavancar a ampliação da presença de nossos produtos no promissor mercado chinês, que seguramente representará uma parcela significativa das operações globais da Embraer”.
– Esta cooperação para desenvolver jatos regionais comerciais com certeza trará resultados vantajosos tanto para a Avic II quanto para a Embraer. Nosso desejo é o de que este programa de cooperação sino-brasileiro estabeleça mais um modelo bem-sucedido de TCDC (Technical Cooperation among Developing Countries – cooperação técnica entre países em desenvolvimento) – afirmou o Presidente da Avic II e membro da Academia Chinesa de Engenharia, Zhang Yanzhong.
A Harbin Embraer Aircraft Industry Co, Ltd. será responsável pelas atividades de produção, montagem, vendas e suporte pós-venda para os aviões da família ERJ 145. O contrato prevê a produção sob licença de todas as versões da família de jatos regionais, incluindo os ERJ 135, ERJ 140 e ERJ 145, que deverão ser comercializados principalmente no território da República Popular da China. A entrega da primeira aeronave está prevista para dezembro de 2003.
As instalações em Harbin ampliam a presença da Embraer na China, onde seu escritório de representação comercial foi inaugurado em Pequim em dezembro de 2000. A Embraer também implementou o Beijing Distribution Center, administrado em conjunto com a China Aviation Supplies Import and Export Corp. Segundo a Embraer, este centro de distribuição em Pequim tem 750 metros quadrados, estoca mais de 6 mil peças de reposição e está eletronicamente conectado a outros centros de armazenamento no Brasil, Austrália, Inglaterra, França e EUA, permitindo aos clientes a realização de pedidos em tempo real. Atualmente, há cinco ERJ 145 voando na China, operados pela Sichuan Airlines Co., Ltd.
Cooperação em álcool e remédios
Brasil e China assinaram também ontem, em Pequim, um memorando de entendimento para estreitar a cooperação industrial. O documento foi assinado pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sérgio Amaral, e o ministro chinês de Comércio Exterior e Cooperação Econômica, Shi Guansheng. Segundo Amaral, o acordo prevê o desenvolvimento conjunto de tecnologia para a produção de medicamentos genéricos e a transferência de tecnologia no âmbito do Programa Brasileiro do Álcool (Proálcool).
A China tem planos de montar uma segunda usina de álcool e está interessada em utilizar a tecnologia brasileira. Atualmente, os chineses utilizam tecnologia norte-americana na produção do álcool. O acordo também prevê entendimentos em vários setores, como o de siderurgia e o de software. “Estamos montando uma rede de relações não só de comércio, mas de investimentos”, disse o ministro, prevendo que deve haver um aumento significativo dos investimentos mútuos.
Amaral disse que a ampliação dos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para linhas de financiamento às exportações, aprovada na semana passada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), foi realizada visando ao mercado chinês. “Achamos que a China é o modelo de relacionamento que deve ser seguido com países de desenvolvimento médio”, afirmou.
A minuta do memorando foi apresentada ao governo chinês no início de novembro, quando uma missão governamental daquele país esteve no Brasil. O ministro disse que, nos últimos oito meses, cinco missões brasileiras estiveram na China e outras cinco chinesas estiveram no Brasil. Amaral acredita que o acordo “pavimenta o caminho” para o próximo governo negociar um acordo de preferências tarifárias com o governo chinês.