A segunda geração de E-Jets da Embraer vai disputar um mercado estimado em US$ 315 bilhões, envolvendo aproximadamente 6,8 mil aeronaves ao longo de 20 anos. A nova família vai ser anunciada formalmente no dia 17 de junho no glamouroso Salão de Aeronáutica e Espaço de Paris, no aeroporto de Le Bourget.
A novidade é que os aviões regionais brasileiros serão, ainda, os mesmos que saem agora das linhas de produção – porém, absolutamente renovados. As alterações vão determinar consideráveis ganhos de eficiência, por exemplo, em itens sensíveis como o consumo de combustível. Nos modelos E-170 e E-175 haverá redução de 5% no consumo. Nas séries E-190 e E-195, a economia será de 4,4%.
Há mais. As winglets, aquelas pequenas extensões na extremidade dos dois lados da asa, ficaram maiores, viraram wingtips, mais longas e em ângulo crítico, uma sofisticação aerodinâmica usada para melhorar o desempenho. Só esse recurso é responsável por metade da vantagem adquirida nos gastos com o querosene de aviação.
Os aperfeiçoamentos chegarão primeiro no E-175, de até 86 passageiros. As encomendas entregues em 2014 incorporarão o pacote. A família toda estará no mercado a partir de 2018. Há estudos considerando a possibilidade de algum aumento na capacidade dos jatos maiores. O birreator E-195 receberia 118 passageiros no arranjo de baixa densidade – ou 136, na ocupação compacta para curtas distâncias.
Expectativa
A notícia era esperada há três, talvez quatro, anos. No período, a especulação correu à solta no mercado. Logo depois do lançamento dos novíssimos Sukhoi Super 100, da Rússia, e Mitsubishi RJet, do Japão, em 2008, ambos concorrentes diretos dos E-Jets da Embraer, o mercado dava como certo que o grupo do Brasil passaria a competir na faixa de cima, de aviões de 150 lugares e alcance de 5 mil quilômetros. A decisão de Frederico Curado, o presidente da Embraer, de acompanhar o movimento do setor, revelou-se adequada: pouco tempo depois, os gigantes da indústria, a americana Boeing e a europeia Airbus, apresentaram planos para produtos menores – e, claro, mais caros.
A geração avançada de aviões regionais da Embraer chega aos clientes apenas em 2018 – mas já está voando, há meses, na “caverna”, a sala que abriga o Centro de Realidade Virtual, no setor de engenharia de projeto da empresa. Ali, engenheiros quase todos muito jovens circulam com o rosto coberto por imensos óculos com capacidade tridimensional. Os jatos que, por enquanto, só eles veem, serão motorizados com turbinas da Pratt & Whitney em vez de GE, fornecedora da linha atual.
Isso determinou uma espécie de elevação da asa – os motores têm diâmetro maior, precisam de espaço. A aviônica, o sistema de controle eletrônico de bordo, é da terceira geração da Honeywell, uma evolução das versões empregadas nos E-Jets desde a estreia da linha, em 2004.
O trabalho dos pilotos será facilitado também pela adoção de monitores digitais, de alta resolução gráfica. No total, cinco telas de emprego múltiplo.
A empresa contempla vendas de 800 aeronaves nos próximos seis anos, antes, portanto, da introdução dos modelos renovados. Segundo Paulo Cesar Silva, presidente e CEO da Embraer Aviação Comercial, “não há exagero em avaliar que até 2030 ou pouco mais, o mercado de jatos comerciais de 61 a 120 lugares, o segmento no qual a empresa é a líder, com mais de 40% de participação, demandará 6,4 mil aeronaves para atender o crescimento e proceder a substituição das frotas antigas”.
A empresa está vivendo a retomada de grandes contratos, como o da Republic Airways. Uma operação em duas etapas, envolvendo a aquisição de 47 E-175 e em seguida de outro lote de mesmo tamanho, vai acrescentar ao faturamento não menos de US$ 4 bilhões. A Republic é dona da maior frota de E-Jets do mundo, operando 73 unidades.
A Embraer credita à inovação o fator determinante no seu posicionamento competitivo. “Essas verdades ganham dimensões especiais na indústria aeronáutica, em que inovação e desenvolvimento tecnológico são as questões da sobrevivência, e não apenas de diferenciação competitiva”, posição da companhia revelada em nota formal da diretoria.
A política de aplicação de novidades, definida pelo presidente, Frederico Curado, ocorre em quatro dimensões transversais à cadeia de valor: 1) inovações de produtos e serviços; 2) inovações dos processos; 3) inovação de marketing; e 4) inovações empresariais. A ousadia é evidente no ramo militar. Como reflexo do desenvolvimento do cargueiro e reabastecedor de combustível, o KC-390, a empresa criou uma coligada, a Embraer Defesa e Segurança (EDS), que nasceu rica, dona de uma fábrica em Gavião Peixoto, a 300 km de São Paulo, e da maior pista de decolagem e pouso da América Latina – 5 mil metros de asfalto cercados de monitores e sensores eletrônicos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.