A Embraer anunciou nesta sexta (13) que realizou o primeiro voo com um avião elétrico produzido pela fabricante no Brasil. O venerando modelo Ipanema, usado para pulverizar lavouras com pesticidas, foi adaptado com pesadas baterias para fazer funcionar um motor da empresa catarinense WEG.
A data do voo, mostrado em um vídeo gravado em sua unidade de Gavião Peixoto (SP), não foi divulgada.
O anúncio fez parte da apresentação do primeiro plano de ESG (sigla inglesa para ambiente, social e governança) da terceira maior fabricante de aviões do mundo. As práticas viraram item obrigatório para grandes corporações nesta década, e mais recentemente foram adotadas pela indústria aeronáutica.
Como ocorreu no lançamento do primeiro relatório da Boeing, no mês passado, o foco principal do pacote apresentado pela brasileira foi a tecnologia para reduzir o impacto ambiental dos aviões –hoje, 3% das emissões humanas de carbono são de turbinas, valor que vai dobrar até 2050 se nada for feito.
Mas a abordagem da Embraer é distinta daquela dos americanos.
“As soluções são combinadas. Talvez SAF (Combustíveis de Aviação Sustentáveis, na sigla em inglês) e hidrogênio para aviões maiores, motores elétricos para menores e carros voadores”, afirmou Luís Carlos Affonso, vice-presidente de Engenharia e Tecnologia da empresa.
A Boeing, por sua vez, aposta mais nos SAF, categoria que inclui biocombustíveis como o etanol e o biodiesel, mas também carburantes tirados da compostagem de lixo e biomassa como bagaço de cana.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no mês passado, o “CEO de sustentabilidade” da empresa, Chris Raymond, disse que as barreiras regulatórias para o uso de carros voadores sugeriam dificuldades futuras.
Há muito de estratégia empresarial aí. Como Affonso admitiu, o SAF promete resultados mais rápidos e aplicáveis a todos os produtos de aviação.
Mas a Embraer tem feito bastante barulho internacional com a montagem de parcerias para a produção de seu eVTOL (veículo elétrico de decolagem e pouso verticais, na sigla inglesa), vendido sob a marca de sua subsidiária Eve.
Os SAF apresentam também seus problemas, como a escala de produção e o fato de que hoje eles precisam ainda ser misturados com querosene de aviação para funcionar.
Assim, a Embraer preferiu dar ênfase a um “mix” balanceado de opções para cumprir sua parte no escaninho E do ESG.
Além do carro voador, que pretende ver voando em 2026, o desenvolvimento do motor experimental com o Ipanema permite desenhar projetos que o incluam.
A Embraer apresentou à Força Aérea Brasileira o projeto de um avião de transporte com dois motores turboélices e dois elétricos, por exemplo –embora o recente corte de encomendas do cargueiro KC-390 sugira problemas orçamentários para o avião decolar.
O Ipanema é uma aeronave pioneira em novas tecnologias. Em 2004, foi o primeiro avião do mundo a ser certificado para voar com etanol.
Aviões elétricos de maior porte são testados no mundo desde os anos 1970, mas sempre enfrentam problema com a potência, o que obriga a desenhos diferentes de asas e fuselagem. Já os carros voadores adaptaram conceitos de drones, com múltiplos motores pequenos, mas precisam ser limitados em peso e tamanho.
A empresa lançou também algumas metas ambientais. Pretende usar SAF em 25% de suas operações (voos de teste, transporte de peças etc.) até 2040, interromper o crescimento da pegada de carbono em 2022 e tentar chegar a 2050 à emissão neutra.
Além a questão tecnológica, a empresa também lançou um pacote de inciativas sociais e de inclusão de funcionários integrantes de grupos minoritários, e estabeleceu 2025 como data para que as posições de liderança na empresa tenham ao menos 20% de mulheres.
“O ESG está no centro do propósito da Embraer e é por isso que o incluímos como um dos pilares do nosso plano estratégico”, disse o presidente da empresa, Francisco Gomes Neto.