O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, foi contundente em relação à recente ameaça dos Estados Unidos, de que os norte-americanos poderiam reavaliar o compartilhamento de informações que mantêm com o Brasil caso sejam inclusas empresas chinesas de tecnologia, como a Huawei, em sua rede 5G. De acordo com declaração do vice-secretário assistente de Estado dos EUA para comunicações internacionais e cibernéticas, Robert Strayer, ao jornal Folha de S. Paulo na semana passada, ele “tem viajado o mundo” para alertar governos sobre os perigos que Washington vê na participação de companhias chinesas nas redes 5G. Entre os riscos, estaria a obrigatoriedade, pela Lei de Segurança Nacional, de empresas chinesas seguirem determinações do Partido Comunista chinês ligadas ao compartilhamento, com Pequim, de dados de usuários.

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“Tal afirmativa é muitíssimo ridícula e sem nenhum fundamento”, criticou o embaixador chinês no Brasil, que participou, nesta segunda-feira, de encontro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), em São Paulo. “Tal narrativa ou se deve à sua ignorância (do funcionário norte-americano) ou é uma calúnia muito mal intencionada.” Para Wanming, esse tipo de narrativa tem como objetivo “incomodar e conturbar a cooperação econômica e comercial com o Brasil e também com outros países”.

Ele observou, também, que, “quanto à questão de segurança cibernética, os Estados Unidos mantêm um histórico muito negativo, ao realizar maciças gravações contra países, como o Brasil, ferindo a segurança e a privacidade dessas nações”, criticou. “Acho que ninguém vai se esquecer de tal conduta equivocada dos Estados Unidos.”

O diplomata chinês fez questão de destacar, também, que a China é um país de economia de mercado. “As empresas chinesas operam de forma independente e equitativa”, reforçou. “Nenhuma lei obriga as empresas, na China, a fornecer dados de inteligência para o governo. Para ele, os Estados Unidos utilizam-se da Lei de Segurança Nacional do país asiático para fazer sensacionalismo sobre o que seria um risco embutido de segurança (na transmissão de dados) de certas empresas chinesas e na sua tecnologia. “Tal acusação é totalmente infundada. É uma deturpação da verdade e difamação mal intencionada para confundir o público.”

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Wanming explica que ter uma Lei de Segurança Nacional é prática comum e internacional e existem várias leis semelhantes nos Estados Unidos e na Europa. “Nossa lei não apenas prevê o dever de entidades ou cidadãos de colaborar com o governo para salvaguardar a segurança nacional, como também prevê o dever do governo de agir conforme a lei, respeitando e garantindo os direitos humanos e salvaguardando os interesses legítimos das entidades e dos cidadãos.”

Sobre as suspeitas dos Estados Unidos que recaem sobre a chinesa Huawei, gigante do setor de tecnologia do país asiático, o embaixador citou que a companhia presta serviços para mais de 170 países, incluindo o Brasil. Além disso, tem a liderança na tecnologia 5G. “Atendemos um terço da população mundial e com bons registros de segurança. Não há nenhuma prova de que a Huawei esteja ameaçando a segurança nacional, como dizem certas pessoas e países”, disse, enfático, acrescentando que a Huawei já celebrou mais de 50 acordos de 5G, em mais de 30 países, incluindo Itália, Portugal e Espanha. No Brasil, acrescentou, a multinacional chinesa atende às sete principais operadoras de telefonia móvel e cobre mais de 90% da população brasileira.

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Por isso, ressaltou que “a prática dos Estados Unidos, de oprimir e inibir as empresas de alta tecnologia, como a Huawei, é sem fundamento, baseada apenas na sua fantasia”, disse. “Tal prática é muito perversa e indizível.” Ainda rebatendo os EUA, Wanming disse que a acusação dos norte-americanos, de que a Huawei estaria envolvida em roubo de propriedade intelectual “é completamente infundada”. “O governo chinês pratica tolerância zero à corrupção”.

Sobre o recado do membro do governo norte-americano ao Brasil em relação à tecnologia 5G da China, disse ser “óbvio” que tal narrativa “é uma ameaça, intimidação e chantagem”. Para o diplomata, trata-se de uma “interferência brutal contra um país soberano”. Wanming acusou os EUA de ainda ter a mentalidade da doutrina Monroe em relação aos países latino-americanos. “Tal prática é perversa e prejudicial. Está prejudicando o ambiente de mercado aberto e inclusive e também fere normas internacionais”, concluiu.