Em um cenário de maior oferta no mercado interno, a carne de porco deu sinais de trégua na inflação para o consumidor brasileiro.

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No acumulado de 12 meses até junho, os preços do produto registraram queda de 5,21%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A baixa é a maior entre os 18 cortes que compõem a variação das carnes no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial de inflação do país.

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Dentro do segmento, além da carne suína, apenas a carne de carneiro (-2,15%) e a capa de filé (-0,12%) caíram no mesmo período. A maior alta nas carnes, por outro lado, foi registrada pelo contrafilé bovino (11,12%), seguido pela picanha (9,21%).

Na visão de analistas, a trégua nos preços suínos está associada ao recuo das exportações, o que acabou aumentando a oferta no mercado brasileiro nos últimos meses.

No primeiro semestre, os embarques de carne suína fresca, refrigerada ou congelada caíram 8,4% em volume ante igual período de 2021, para 458,1 mil toneladas, conforme dados do comércio exterior disponibilizados pelo governo federal.

O freio nos embarques foi puxado pela China, que dá sinais de recomposição do rebanho local, castigado nos últimos anos pela peste suína africana.

“A China, grande importadora, passa por um período de recomposição do seu rebanho. Ficou menos dependente das compras internacionais”, explica o economista Fernando Henrique Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado.

“Em 2020, quando os preços da suinocultura atingiram ápice, houve investimentos no setor no Brasil. A questão é que o aumento da capacidade produtiva não contou com a demanda chinesa tão aquecida em 2022”, completa.

Dados de uma pesquisa do IBGE sobre abates ilustram o contexto de alta no potencial de produção.

No primeiro trimestre deste ano, o abate de suínos alcançou 13,64 milhões de cabeças no Brasil, uma alta de 7,2% em relação ao mesmo período de 2021.

Trata-se da maior quantidade para o intervalo de janeiro a março desde o início da série histórica do levantamento, em 1997.

“O que acontece é que a China dá sinais de estar recompondo o rebanho, e o consumo interno no Brasil não absorveu toda a quantidade de carne”, afirma a analista Juliana Ferraz, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

“A carne suína é uma opção intermediária. É mais barata do que a bovina e um pouco mais cara do que o frango. O que muitas vezes acontece é o brasileiro migrar de forma direta da carne bovina para o frango”, acrescenta a pesquisadora, em referência a períodos de escalada da inflação.

Projeção sinaliza consumo maior em 2022 Em 2021, o consumo per capita (por pessoa) de carne suína no país foi estimado em 16,7 quilos pela ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

Diante da queda recente dos preços, a entidade aposta em uma alta em 2022. A projeção é de o consumo alcançar neste ano até 18 quilos, em uma alta próxima a 8%.

“Houve diminuição das exportações e maior oferta no mercado interno. Assim, o suíno está bem mais competitivo do que a carne bovina, e é um substituto perfeito em receitas. A população está consumindo mais”, afirma Ricardo Santin, presidente da ABPA.

Mesmo com o possível incremento até o final do ano, a carne suína ainda deve ficar distante da procura por frango. O consumo per capita de frango foi de 45,5 quilos no país em 2021 e, para este ano, a ABPA projeta estabilidade.

Dados do IPCA sinalizam que, em 12 meses até junho, o frango em pedaços acumulou inflação de 22,14%. O inteiro subiu 16,18% em igual período.

No IPCA, o frango não entra no grupo das carnes. Faz parte do segmento de ovos e aves.

“Para o consumidor, os preços da carne suína ganharam competitividade. Mas o brasileiro ainda não tem o mesmo hábito de consumo como o da carne bovina ou de frango”, diz Iglesias, da Safras & Mercado.

“A carne suína está mais presente hoje em embutidos, como presunto, mortadela, linguiça e salame. Cortes nobres, como pernil e lombo, ainda não são tão populares”, completa.

Segundo os dados do IPCA, a trégua na inflação vem após aumentos nos preços durante a fase inicial da pandemia. Até junho de 2021, por exemplo, a carne de porco chegou a acumular alta de 32,65% em 12 meses.