Quando Raimundo dos Santos, de 54 anos chega ao trabalho, ele não consegue deixar de comparar a situação atual do setor de construção civil com o que o setor era há cinco anos. “Nesta obra aqui devem ter umas 300 pessoas trabalhando. É muita gente. Mas não tem outro canteiro assim por aqui por perto. Em 2014, dava até para escolher onde pagavam mais.”

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Desde 1990, ele trabalha construindo fachadas de edifícios residenciais em São Paulo. “Com esse salário, consegui criar meus três filhos e manter a minha família. Era um orgulho pensar que construí a minha casa com a mesma dedicação que tinha para construir a casa dos outros. Uma pena que tudo mudou tão rapidamente.”

Ele conta que, se há cinco anos conseguia tirar cerca de R$ 7 mil, considerando o salário e as comissões, hoje o rendimento é de R$ 3 mil. “Ainda bem que os meus filhos têm emprego, estão encaminhados. Até penso em voltar para a Bahia, mas todo mundo diz que lá as coisas estão ainda mais difíceis. O jeito é torcer.”

Quando olha para a situação atual do mercado de trabalho, Raimundo diz que não vê uma solução próxima para a queda do desemprego, que atingia 13,2 milhões de pessoas no trimestre até abril, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. “Se o pobre e a classe média não conseguem trabalhar, como esse povo vai ter dinheiro para comprar a sua casa?”

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O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo (Sintracon), Antonio de Sousa Ramalho, diz que o piso do trabalhador do setor tem sido reajustado pela inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), mas a renda caiu, afetada por comissões baixas e alta da concorrência, com o maior número de desempregados.

“O trabalhador ficou com um buraco na renda. O setor da construção perdeu mais de 1 milhão de postos de trabalho na crise. Os benefícios que as empresas davam para segurar os bons empregados ficaram no passado”, diz.

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O professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luís Oreiro avalia que a construção ainda deve patinar. “Ela foi expandida de 2008 a 2014, por investimento público, e ainda teve a bolha imobiliária, que aumentou o valor dos imóveis e estimulou lançamentos. Esses vetores estão ausentes agora. A recuperação vai demorar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.